Desmoralização das Instituições
TEMER, O DESMORALIZADO(1)
Tem uma coisa que eu respeito muito, as instituições. Muito embora eu seja, por muitas vezes, anarquista e revolucionário, se tem algumas coisas que devemos respeitar são as instituições do nosso país(*). Um presidente da república (PR) e a instituição que representa não deveria ter a desmoralização como a que Temer provocou.
Assim, coisas como Constituição, Bandeira, Hino e outras, devem ter o respeito de todos. Os presidentes e ex-presidentes deveriam se dar ao respeito para obter reciprocidade. Por mais que eu discorde de atos e omissões de ex-presidentes (considero o atual um golpista), desrespeitar a instituições é sintomático.
Não é por acaso que o país está onde está pelo desrespeito e certeza da impunidade quase geral (exceto para pretos, pobres e putas).
DESMORALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
A desmoralização das instituições no Brasil, especialmente da PR, é um fenômeno complexo e que nunca teve real apresentação ao povo brasileiro. A presidência, como o mais alto cargo do Poder Executivo, tem um papel crucial na governança do país. No entanto, atos e omissões de seus ocupantes contribuem para a erosão da confiança pública nessas instituições. E, como se não bastasse, muitas ações e inanições são de responsabilidade de ministérios, mas recaem sobre a presidência. O brasileiro mediano não sabe lidar com o tem a responsabilização e a desmoralização, por vezes, recai sobre quem não devia.
A PR é como um símbolo de liderança e estabilidade que a maioria das pessoas vilipendia até mesmo ao votar em candidatos caricatos. A candidatura, por exemplo, de um tal Padre Kelmon(2) é um acinte a qualquer cidadão que pratica a política de verdade. O candidato teve sua credibilidade sob crítica pelos adversários e, surpreendentemente, teve votos de muita gente.
Quando os ocupantes desse cargo se envolvem em atos questionáveis ou falham em cumprir suas responsabilidades, é um grave sinal. Por isso, desde Collor, com agravamento de Temer, cresce a percepção de que as instituições estão falhando. Certamente, isso é prejudicial para o Brasil, onde a confiança nas instituições já é frágil por questões históricas de corrupção e má gestão.
A EXPLOSÃO DAS REDES SOCIAIS
A situação agrava-se pela explosão das redes sociais, dos grupos e comunidades nas plataformas de mensagens instantâneas e das fake news. Essas redes têm, inquestionavelmente, o poder de amplificar as mensagens e as percepções, tanto positivas quanto negativas. As fake news, por outro lado, distorcem a realidade e alimentam a desconfiança e a desinformação. Isso é, sem dúvida, particularmente problemático em um ambiente político que não deva prevalecer a desmoralização. Desse modo, a verdade e a precisão, que são essenciais para a tomada de decisões e politização, sofrem enormes fraturas.
A mudança no perfil dos eleitores também desempenha um papel importante. Esses eleitores têm acesso a uma quantidade sem precedentes de informações, a maioria de origem duvidosa ou maliciosa. A qualidade dessas informações varia muito, e grande parcela dos cidadãos não possuem as habilidades para discernir entre verdades e mentiras. Isso leva, com toda a certeza, a uma polarização entre eleitores, e a uma desmoralização e desconfiança nas instituições.
INFLUENCIADORES DA OPINIÃO PÚBLICA
Além disso, as redes sociais e as fake news sofrem com o bombardeio para influenciar a opinião pública e o senso comum(3). Isso acontece através da disseminação de informações falsas ou enganosas, ou pela exploração das emoções e preconceitos dos eleitores. Essa manipulação pode ter um impacto significativo na forma como os eleitores percebem as instituições e seus líderes.
Quando um influenciador (empregador, pastor, comunicador etc.) usa um exemplo de senso comum, as pessoas atuam cegamente. Tomemos, por exemplo, um tema grave, a pedofilia. Não existe ninguém que defenda esta atividade em público pois sofrerá os rigores da lei. Contudo, muitos a praticam sorrateiramente, e esta bandeira de combate à pedofilia entra no discurso fácil, para entronizar outros dogmas. Desse modo, os pregadores defendem a utilização de armas por civis sem preparação, campanhas contra vacinação e outras sandices.
Por isso, é necessário em tempos de eleições, separar as instituições das pessoas e daqueles que se aliam, convenientemente a mandatários.
ALIADOS
Uma apresentação feita para deputados federais do DEM, partido aliado e protagonista do golpe é, por exemplo, um grave indicativo de desmoralização. Um servidor da Câmara dos Deputados, de origem espúria, mostrou um PowerPoint motivacional curioso. A apresentação, do tipo do D’Artagnan das Araucárias mostrou uma imagem do presidente como um satã.
Em suma, um "chifrudo" na boca do povo e do parlamento, e ainda dizem que isso representa a liberdade de expressão, #SQN.
Segundo o apresentador, ele pegou a imagem em alguma fonte de informação sindical. Alega que uso das informações dos sindicatos na Internet para montar a palestra.
Houve constrangimento e revolta da bancada da situação. Com toda a certeza, o funcionário teve uma advertência, que é o mesmo que nada.
RELAÇÕES EXTERIORES
Ainda na linha da desmoralização completa e absoluta do golpista, basta avaliar o que foram as gestões dos breves ministros de Relações Exteriores. O primeiro não tinha condições técnicas e profissionais de assumir a pasta, mas precisava por em curso o entreguismo do pré-sal. Conseguiu e pediu para beber água e ninguém sabe para onde foi. Seu sucessor é um poço de estupidez e vai ficar muito tempo explicando o inexplicável.
Nenhum dos dois consegue ter interlocução externa, e temos um presidente golpista que não teve aceitação de NENHUM mandatário internacional. Correspondentes da mídia internacional e brasileiros no exterior são unânimes em afirmar que o presidente é insignificante no cenário internacional. Em outras palavras, a desmoralização, seja perante a mídia ou representantes de peso no mundo dos incluídos, é pública e notória.
Que as redes sociais e perfis oposicionistas façam pouco da pessoa, é compreensível, pela baixa capacidade cognitiva para o debate político. Entretanto, que parlamentares e políticos utilizem as redes sociais para abalar as instituições, é uma questão nacional gravíssima.
COMO ASSIM?
Os caras são cúmplices ou adesistas de ocasião? "Advertência" ? Só ?
O país fica sem ninguém decente e honesto nas relações exteriores e fica por isso mesmo?
Cadê os paneleiros? Será que eles entenderam alguma coisa?
Enfim, Michel Temer conseguiu a proeza de obter uma desmoralização maior do que Fernando Collor. Como se não bastasse, se não fosse pelo acordo que fez com o "Centrão", teria seus direitos políticos retirados e estaria preso.
Em suma, a desmoralização das instituições no Brasil, especialmente da PR, é uma espécie de carma que o eleitor não assimilou. A solução para este problema requer uma abordagem diferente, a começar pelas eleições municipais. A análise da integridade e da responsabilidade entre os líderes políticos e quem os cerca é necessário. Não raramente, é possível que um politico no mais alto cargo de qualquer esfera do Executivo tenha boas intenções. Entretanto, ele pode ser refém de políticos do Poder Legislativo.
Assim sendo, a educação dos eleitores sobre como discernir informações verdadeiras de falsas, e a regulação das redes sociais são necessárias. O discurso e narrativas de, sobretudo, políticos com más intenções e que praticam a desmoralização das instituições devem sofrer críticas severas.
Apenas através desses esforços, politização e conscientização, será possível construir uma confiança nas nossas instituições e não nas pessoas.
P. S.
(*) Mutatis mutandis, muita coisa se alterou desde a publicação original deste texto. A desmoralização que começou com Collor, cresceu com Temer, recrudesceu com Bolsonaro. Dizem que Dilma sofreu impeachment por não compactuar com pressões do Centrão, vai saber. Agremiações partidárias como o DEM, do texto original, nem existem mais, é a desmoralização das instituições e perpetuação das imagens pessoais. A referência original a Temer manteve-se na revisão porque ele teve apoio de Collor e provocou a continuidade da desmoralização.
(1) "Michel Temer – A Desmoralização das Instituições" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2017/03/13/michel-temer-a-desmoralizacao-das-instituicoes/
(2) "Saiba quem é Padre Kelmon - CNN" em https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/saiba-quem-e-padre-kelmon-candidato-a-presidencia-da-republica-pelo-ptb/
(3) "Senso Comum e a Manipulação de Massas" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/05/09/senso-comum-e-a-manipulacao-de-massas/
(*) Revisado e atualizado em janeiro de 2024