Tantas intempéries
Tenho perdido crônicas. Não digo crônicas naquela acepção de especialistas no gênero – que há neste Recanto –, mas naquele sentido de mensagem um pouco mais longa que materializamos neste e em outros espaços do mundo virtual. Ah! sim, eu as perco e às vezes me entristeço por não ter batido o ponto em alguns assuntos.
Hoje, em dia, também, ficou difícil qualquer discussão que nos leve para assuntos essencialmente políticos. E não há vida sem política! Uma leve opinião costuma ser alvo de repiques insultuosos nas falas livres. O resultado é que os formadores de opinião – credenciados, voluntários – vestem suas couraças e vão à necessária luta. Conforta-me que, se assim o digo, é também uma forma de somar o meu quinhão de revolta.
Mesmo o nosso dia a dia se tornou monocórdio em nossas escolhas para as conversas cotidianas, se quisermos ser educados e tratar com o acolhimento que merecem as visitas. Então se fala de esportes, de futebol – o doutor Sócrates hoje não seria temática –, de um ou outro episódio envolvendo o vizinho, de um lance de felicidade; conta-se um chiste e a vida educada (!) segue seu curso.
Mas e o Rio Grande? Se por aí formos (o que seria necessário e obrigatório), alguém dirá que triste é saber que o Governo não aceita doações internacionais, que helicópteros são proibidos de resgatar vítimas, que o Governo estaria, enfim, impedindo a chegada de doações... E isso tudo anda à solta e abastece nossos celulares diariamente. Uma lástima! Uma tragédia dentro da tragédia! Não raras vezes, somos instigados nas andanças a aquiescer à revolta desinformada de um interlocutor desconhecido. Tudo por uma convivência minimamente salubre!
Não li a repercussão da ida do senhor presidente da República ao Rio Grande do Sul, ocasião em que ele destacou as medidas do Governo para começar a reconstrução do estado. É bonito ver o chefe do Governo no meio das pessoas que, assim, “de repente, não mais que de repente” veem a pobreza bater a suas portas destruindo seu patrimônio material e afetivo – ambos, agora, eternamente em suas lembranças. Então, se o presidente se emociona – abraçando e beijando pessoas – é que, à sua natureza de homem bom, soma-se a emoção de ele mesmo reviver momentos difíceis em que passou por enchentes nesta vida, que lhe foi tempestuosa, em tantos e tantos momentos.
É gratificante ver que nossa gente é solidária, soma esforços, faz doações materiais, doa sua força de trabalho, doa seus afetos em prol dos irmãos! Emociona... É triste saber que a luta é longa, muito longa e que vidas se perderam diante da natureza inclemente, que, com sua fúria, hoje assusta a humanidade e nos leva a pensar sobre o que não se fez, em passado recente, para mitigar desastres tão desesperadores como esse que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.
É bom ver que o Brasil tem recursos. Que o Governo Federal soube onde encontrá-los! É necessário também que se estudem alternativas para ir erradicando esta tragédia brasileira, que é a pobreza... O Governo está devendo. As nossas ruas estão cheias de pedintes, de esfarrapados, de moradores de ruas, de crianças nos sinais... Quem sabe um mutirão nacional na tentativa de propiciar alguma dignidade a quem a situação de sofrimento independe das vultosas intempéries. Um mutirão de ações e discussões envolvendo toda a sociedade! Tenho lido que é preciso rediscutir a questão da dívida brasileira, que consome muito do que arrecadamos e alimenta o mercado e deixa tantos irmãos à mingua. Talvez seja o momento de o assunto vir à baila. Será possível que falem sobre isso?