Hoje de manhã, decidi finalmente descascar o enorme abacaxi que compramos no supermercado. Embora não seja minha fruta preferida, é a do Roque, que o adora. Sempre adio essa tarefa... Convenhamos, descascar um abacaxi pode ser bem tedioso! Mas meu marido é tao bom que merece!
— Você já cortou o abacaxi? — Ainda não: faço isso amanhã sem falta...
Mas hoje, enquanto lidava com aquele abacaxi colossal, comecei a refletir sobre a vida. Quantas tarefas simples evitamos ou delas reclamamos? Resolvi marcar no relógio: levei pouco mais de três minutos para descascar e fatiar o dito cujo. Quantas coisas na vida que duram apenas três minutos podem ser insuportáveis? Ficar debaixo d’água sem respirar, aguardar ansiosamente por uma notícia importante, aqueles três minutos de angústia esperando uma resposta do filho se ele está bem. Em três minutos, nossa mente pode vagar por inúmeros pensamentos! Uma dor que dura um minuto pode parecer uma eternidade. Sentir frio sem um cobertor, quantas pessoas em situação de rua enfrentam isso, e poucos minutos para elas podem parecer uma vida inteira.
Pensei nas pessoas desabrigadas no Rio Grande do Sul, nas que estão em hospitais enfrentando doenças graves. Pensei em uma amiga querida que perdeu o marido esta semana depois de viverem juntos 52 anos, e em outra amiga cuja filhinha recém-nascida está na UTI, lutando pela sobrevivência. Fiquei fazendo pequenas analogias... Assim como, enquanto passo roupa, começo a pensar aleatoriamente em momentos felizes, relembro diálogos que tive com minha filha, ou momentos significativos com o Roque. Faço retrospectivas e sinto gratidão. As vezes viajando na emoção noto que dei uma molhadinha nas golas das camisas com minhas lágrimas.
Mas, voltando a minha tarefa inicial, ao terminar de cortar o abacaxi, caprichando nas fatias, lá estava ele, todo amarelinho, pronto para ser saboreado. Durante esses poucos minutos, percebi que a vida é muito mais do que essas pequenas tarefas das quais reclamamos ou as adiamos, e elas podem trazer clareza e paz em meio ao caos, fazendo-nos lembrar que a simplicidade pode ser uma poderosa fonte de serenidade. São momentos que, apesar de parecerem insignificantes, nos oferecem tempo para refletir e valorizar o que realmente importa.