Tragédia em tópicos
Pura ironia!
Um repórter da TV 247 vem a Porto Alegre. Entra em um bom hotel e pede um quarto.
– Só tem um problema, nós não temos água.
Ele, desconcertado:
– Como, não tem água no hotel?
– O senhor sabe, nós estamos numa fase complicada. Estamos sem água em vários bairros. Os hóspedes compram garrafas d’água, vão quebrando o galho.
O repórter pergunta onde poderá encontrar hotéis em que não falte água. O funcionário lhe dá orientações. Chega à porta do estabelecimento e bate os olhos nas águas caudalosas que cobrem o fim da rua.
Deixa-se estar um tempinho junto à porta e resolve dar meia-volta.
– Vou ficar aqui.
– Mas…
--Eu vim para sentir como está a situação em P. Alegre. É justo que viva o que os gaúchos estão vivendo.
Vai dar uma olhada na cidade. À noitinha, volta carregando um galão d’água.
O abrigo
O olhar das crianças brilha, quando chamam para o almoço. A mãe ainda relutou em deixar o chalé, que as águas começavam a beijar. Terminou ouvindo a voz dos parentes e vizinhos:
“Não dá para continuar aqui, o arroio vai nos engolir.” De fato, as águas avançavam, cobrindo as calçadas.
No abrigo, as crianças desfrutam de um prato bem servido. Demoram um pouco para conseguir a sua porção, há muita gente. Mas, para elas, tudo é novidade. De certa forma, estão animadas.
A mãe suspira, afinal, em casa, estava passando trabalho. Faltam-lhe as suas coisas, há gente demais naquele espaço que virou a sua moradia. Embora não tenha privacidade, sente-se grata por ter obtido um lugar no abrigo: ali, a família está protegida da enchente.
O mundo das "fake news"
Nem tudo é solidariedade e união naquele ambiente de múltiplas pessoas que procuram salvar vidas. Emocionante ver que tantos colaboram para mitigar os problemas. Gente da cidade, gente de outras cidades, gente de outros estados, até de países vizinhos. Um trabalho coletivo, muitas vezes difícil, que envolve bombeiros, militares, voluntários… Botes e jetskis singram as águas, helicópteros cruzam os céus, buscando pessoas e animais nos lugares mais íngremes, com o aparato de uma verdadeira operação de guerra!
Médicos e enfermeiros atendem aos feridos, veterinários dedicam-se aos animais, num esforço conjunto. Nunca se viu tamanha catástrofe. Governo federal, estadual, municipal fazem-se presentes, para atenuar as adversidades. De repente, circula uma afirmação de que nove pessoas estão morrendo em um hospital por falta de atendimento. O pessoal da saúde se olha: parar o trabalho do momento, deixar os pacientes que estão sendo atendidos? Diante da urgência, apressam-se.
Quando chegam ao dito hospital, há dois mortos, outros dizem que três. Ninguém sabe dos nove. Mais um trote, ou uma fake news, como se diz no momento. Uma, entre tantas, que não trazem nenhuma contribuição para o serviço abnegado e constante de tantas pessoas empenhadas em salvar vidas.