Aleatória
Mirei as estrelas, quis alcançá-las... mas talvez tenha sonhado alto demais. Fechei-me para balanço. É que vez ou outra me tranco e depois destranco, conquanto aos trancos e barrancos enxugo meu pranto, no ensejo de que minhas emoções possam repousar e desacelerar, até que eu possa retomar o meu caminhar. Remanso salubre que conflui até as margens do meu coração. Fecho-me para visitação. Não hospedo ninguém, não recebo visitas. Banida, por conta própria. Arredia à multidões, burburinhos e falácias... a tudo que impede meu estado de graça. Preciso ouvir o meu interno, evitar outros infernos. Fazer as pazes comigo mesma. Faço pausas sem horas marcadas, nunca fui boa de assumir compromisso, ainda mais com horas definidas, pré determinadas... minha demanda é descompromissada, pois o imprevisto é sorrateiro e oportunista, já pregou várias peças em mim... na minha ansiedade de outrora em querer chegar... sabe se lá onde!...aprendi amargas lições, que desceram goela abaixo sem respeitar os nós da minha jugular...é tudo muito incerto, o amanhã é invisível... imprevisível...gestado nas entranhas do tempo, aguarda materialidade... talvez nem venha a se consumar...e é por isso que frustra por demais, os que caminham desatentos...e os atentos também...os que traçam planos nas linhas da incerteza...surpreendidos pelas casualidades... amistosas?... intempestivas?...contudo, prefiro não criar oportunidades, tampouco expectativas, para não ser desapontada mais tarde... sigo precavida pela via da inconstância, previsível não me enche os olhos, não pressupõe deslumbramento... e eu busco encantamentos que afugentem as preocupações desnecessárias com frivolidades que me cercam como se fossem relevantes...embora a relevância advém do foco da minha atenção...inútil!... em vão!
Qual botão de rosa fechado, em labuta interna e silente, eu me encontro; e semelhante a seiva bruta, elixir, minha essência se eleva conduzindo-me a um outro patamar...onde eu aprendo a me amar... a cuidar de cada pétala que reveste meu ser, sensibilidade aflorada que merece ser bem cuidada, interpretada... desprendendo-me das velhas folhagens (atitudes) que já não têm mais serventia... quiçá na estação primaveril ou outra qualquer, eu rompa a clausura e volte a desabrochar... não sou de se fazer notar, mas tenho afinidade com o despertar... esse, precisa de tempo e a impaciência põe tudo a perder. Sigo devagar a divagar... entre uma volta e outra, amplio meu olhar. Lanço os dados, o recado foi dado. No tabuleiro da vida, sigo aleatória. Uma hora eu viro o jogo, intuitiva, avessa às probabilidades.