NOVAS TRAGÉDIAS VIRÃO

Quando você pensa na ocupação do espaço urbano, cabe aos privilegiados ocupar os espaços ditos nobres, restando aos menos favorecidos a periferia ou as áreas de risco, não importando se o lote é sujeito a alagamento, ou deslizamento.

Com a repentina chegada do novo normal vamos passar a arcar com as adversidades associadas a essas ocupações indevidas, e isto fatalmente acontecerá, sendo apenas uma questão de tempo, para que consequências comecem a pipocar nesse país de dimensões e carências, digamos assim continentais.

Se até muito pouco tempo atrás a população não tinha acesso a informação e praticamente todo mundo achava que a terra podia ser considerada praticamente infinita, não havendo inter-relação climática entre continentes, hoje tudo isso foi por água abaixo, aliás, com a contribuição de muita água da chuva.

A questão do aquecimento global deixou de ser mera divagação de cientistas enlouquecidos e começou a ganhar contornos mais concretos, principalmente a partir do nascimento do El Niño, logo acompanhado da irmãzinha mais nova La Niña. Ambos frutos do aquecimento das águas dos oceanos.

Imagina que tolice seria você aventar a algumas décadas a possibilidade daquele oceano sem fim, aquela imensidão de águas do Pacífico, de repente ficar mais quente, seria sem dúvida, um caso de internação compulsória.

Bom, não tem jeito mesmo, é isso que temos agora que engolir sem possibilidade de contestação. Essa chuvarada que despencou sobre o Rio Grande do Sul não passou de uma simples parada, no trajeto de pesadas nuvens de carga incomensurável que circundou nossa aldeia global. Este mesmo fenômeno se repetiu no nordeste da África, na Oceania e no Afeganistão. Ou seja, foi só uma questão de tempo, aliás, curto entre tragédias em tão distantes localidades.

Voltando o foco para terras gaúchas, vamos precisar de urbanistas, falo assim porque essa terminologia abarca uma gama variada de profissionais que pensam a cidade em seus muitos aspectos.

Algumas pequenas cidades, ênfase para o Vale do Taquari, simplesmente foram varridas integralmente do mapa, lembrando em muito os estragos perpetrados por furacões no sul dos EEUU, ou das cidades dizimadas na Ucrânia ou na Faixa de Gaza por déspotas sanguinários.

Num primeiro momento, moradores e comerciantes normalmente tendem a retornar ao que seria seu antigo lote. No entanto, prefeitos e outras autoridades devem coibir esta possibilidade, pois repetir o erro vai custar mais caro do que realocar a cidade em local seguro, fora da área de abrangência do rio em suas esporádicas cheias.

Em outras cidades, apenas algumas localidades precisarão ser realocadas, mas esse processo vai precisar passar por reuniões que consensuem o que vai ser melhor para o conjunto da sociedade.

E que essa experiência sirva para futuras intervenções locais, pois pelo andar da carruagem novas chuvaradas virão, mas ninguém será capaz de prever quando, onde e muito menos a quantidade em milímetros.

Agora, todo mundo deve lembrar que, quanto maior e impermeabilizada for à mancha urbana da cidade, pior serão as consequências, até porque toda metrópole hoje carrega um legado do descaso histórico na política envolvendo moradia popular, ou seja, na falta oferta formal, a saída da população foi à informalidade, que se caracteriza por ocupação de áreas onde não se permitia o uso formal.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 16/05/2024
Código do texto: T8064381
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.