A VITRINE DAS ILUSÕES

 

Às vezes, sinto que estamos todos perdidos nesse mundo frenético, onde as pessoas esqueceram o que significa se apaixonar de verdade. É como se estivéssemos passeando por vitrines humanas, escolhendo aquele ou aquela que se encaixa perfeitamente em nossos critérios de par ideal. O convencional tornou-se mais prático do que o admirável, e apaixonar-se virou algo movido por pretensões, não por valores.

Hoje em dia, a maioria busca relacionamentos prontos, algo que não demande esforço na conquista diária ou na aceitação de defeitos. Querem algo que não exija muito de si mesmos, algo que pareça estar pronto para servir aos seus interesses momentâneos. E então, pensam ter encontrado o amor da vida, mas sempre falta algo. Aquilo que está ao lado deles já não satisfaz mais expectativas e interesses, e a jornada recomeça nas vitrines.

A busca por ofertas prontas continua, sem muito esforço na leitura dos conteúdos, pois o importante é que sirvam ao propósito destinado, sem manuais, sem muitas receitas. É como comprar um remédio para dor de cabeça; a marca não importa, desde que alivie a dor naquele momento. Se a dor voltar, não há problema, pois esse tipo de remédio está disponível em qualquer lugar, até em um simples boteco.

E nesse labirinto moderno, os aplicativos de encontros tornaram-se o caminho mais fácil para conexões rápidas. O deslizar dos dedos parece mais uma busca incessante por gratificação instantânea do que um mergulho genuíno nas águas da paixão. A facilidade do sexo casual muitas vezes ofusca a busca por laços afetivos reais.

A ilusão de escolha infinita nos aplicativos cria uma mentalidade descartável, onde cada perfil é apenas mais um candidato em potencial. A superficialidade reina, e as interações muitas vezes se resumem a meras trocas de mensagens descomprometidas. O romantismo é substituído pela conveniência, e a conexão emocional se perde na voracidade da busca por experiências momentâneas.

Essa dinâmica efêmera, alimentada pela busca por satisfação imediata, distancia cada vez mais as pessoas de construir laços afetivos profundos. O medo do compromisso real, da aceitação dos defeitos do outro e da dedicação necessária para construir um relacionamento sólido parece ser substituído pelo conforto da superficialidade e da transitoriedade.

Assim, o ciclo se perpetua: a jornada de volta às vitrines, agora digitalizadas, em busca de algo que sirva ao momento, sem aprofundamento nos verdadeiros conteúdos emocionais. E, enquanto o sexo casual e os aplicativos de encontros oferecem a ilusão. Enfim, estamos presos nesse ciclo incessante, onde o amor tornou-se uma commodity, trocada como um remédio genérico.

Em meio a essa jornada de vitrines digitais e encontros fugazes, sinto uma saudade profunda da autenticidade perdida. As conexões superficiais podem aquecer momentaneamente, mas o vazio persiste quando falta a profundidade que só um amor genuíno pode oferecer. No final das contas, em meio a tantas opções, acabamos sozinhos. Talvez a verdadeira revolução seja escolher a profundidade em vez da superficialidade. Como disse algum sábio que não me lembro o nome, "A verdadeira riqueza não está na quantidade de escolhas, mas na qualidade da conexão que você escolhe cultivar."

Será que não é hora de repensarmos nossa abordagem e redescobrirmos a beleza de se apaixonar de verdade, mesmo que isso demande mais do que uma simples escolha em uma vitrine?

Que possamos resgatar essa verdade e reconectar-nos com a essência do amor.

 

- Wesley Diniz