"LOREM IPSUM LOREUM...'
Estávamos no início de 1980 quando fui admitido na Núcleo de Propaganda, minha primeira agência, na saudosa casa rosada da Avenida Eusébio Matoso, 333, em São Paulo. Era, então, apenas um garoto que ainda não terminara a faculdade de comunicação, e pouco sabia sobre a linguagem e termos técnicos usuais no meio publicitário.
Meu desejo sempre fora atuar na área de criação, como redator. Porém, quis o destino — e a necessidade — que encarasse a função que aparecesse. A oportunidade surgiu como checking no departamento de mídia dirigido por Otto Zoega, profissional que dispensa comentários sobre sua integridade profissional e pessoal.
Recordo-me que, à época, a planejadora de mídia era Maria da Graça, figura amabilíssima que, no primeiro contato comigo, recebeu-me com o singelo cumprimento:
— Então, seu “caralhudo”, pronto para trabalhar? Ainda que não fosse nenhum inocente assustado diante da abordagem, esbocei apenas um sorriso amarelo.
A partir daquela data, aprendi a conviver com uma série de palavras de calões extraordinários e divertidíssimos, enriquecendo ainda mais meu já vasto vocabulário de baixos e altos calões.
Se Maria da Graça era "desbocada', Otto mostrava-se mais comedido em suas palavras. Foi ele quem me proporcionou a primeira oportunidade de protagonizar uma cena curiosa e engraçada nessa labuta que é ser publicitário. Otto estava atarefado e solicitou que eu apresentasse a proposta para um cliente. Era um anúncio de 1 página inteira para revistas, no formato de 21 X 28 cm .
Diferente dos dias atuais, exibíamos as peças de campanha para a mídia impressa com o layout do anúncio colado em uma prancha de cartão Paraná, emoldurado pelo paspatur. Sobre a peça, uma folha de papel vegetal — o overlei — que servia para proteger o anúncio e permitir anotar eventuais alterações.
No layout, o espaço do texto era apenas marcado com o adesivo da marca Letraset, com expressões do tipo “Lorem ipsum loreum. Ipsum lorim...” que definia corpo e fonte, porém, não se reportava ao texto oficial colado no verso da prancha em folha sulfite datilografada.
Ao término da apresentação, o cliente — acredito que também inexperiente, indagou: — O reclame até que tá bem bolado, mas o texto está difícil de entender. Por que está em latim? Confesso que naquele momento eu não soube responder.
Depois me lembrei do ocorrido e, por curiosidade, pesquisei e me deparei com que segue abaixo (*):
"• A expressão Lorem ipsum em design gráfico e editoração é um texto padrão em latim utilizado na produção gráfica para preencher os espaços de texto em publicações (jornais, revistas, e sites) para testar e ajustar aspectos visuais (layout, tipografia, formatação, etc.) antes de utilizar o conteúdo real. Também é utilizado em catálogos tipográficos, para demonstrar textos e títulos escritos com as fontes.'
'• Em sua forma mais comum, o texto é como se segue:
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Etiam eget ligula eu lectus lobortis condimentum. Aliquam nonummy auctor massa. Pellentesque habitant morbi tristique senectus et netus et malesuada fames ac turpis egestas. Nulla at risus. Quisque purus magna, auctor et, sagittis ac, posuere eu, lectus. Nam mattis, felis ut adipiscing."
'• Sua tradução para o português seria:
Aquele que ama ou exerce ou deseja a dor, pode ocasionalmente adquirir algum prazer na labuta. Para dar um exemplo trivial, qual de nós se submete a laborioso exercício físico, exceto para obter alguma vantagem com isso. Desmoralizado pelos encantos do prazer percebe que a dor não resulta em prazer algum. Está tão cego pelo desejo que não pode prever quem não cumprirá seu dever por fraqueza de vontade."
(*) Pesquisada em 26-06-2020 – 22h04:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lorem_ipsum#:~:text=A%20express%C3%A3o%20Lorem%20ipsum%20em,antes%20de%20utilizar%20conte%C3%BAdo%20real.