Ao final do século XX, o grande romance era um gênero impossível poque o mundo, o saber e o próprio ser humano estavam fragmentados, e a ficção não podia mais recolhê-lo, no vetusto molde do romance. Enfim, o final do século XX presenciou muitos fins: o fim do homem, o fim da história, o fim dos grandes relatos, das grandes utopias, cultura ocidental e até da arte. Felizmente, nenhum desses fins se concretizou, mas presenciamos sinceras mutações. A literatura não restou incólume às mudanças, deu-se o desaparecimento do grande escritor e o encolhimento do número de leitores. Houve quem preconizasse a morte da literatura tais como Sartre, Blanchot, Paz e George Steiner era bem pessimista. Quando cogitamos de literatura, lembremos que se instalou propriamente em meados do século XVIII quando assumiu ser uma prática de linguagem separada e superior às outras artes e, também um meio de conhecimento. Enfim, a defesa dessa literatura se tornou um puro ato de heroísmo. Aliás, já na Inglaterra, Thomas Carlyle já tinha definido o poeta como herói. A literatura é uma forma corajosa de revelação, a difusão da imprensa, o livro e o jornalismo vulgarizaram as palavras, os pensamentos e, até a própria possibilidade de heroísmo. Enfim, muitos escreveram e ousaram denunciar ditadores, barbáries e, principalmente, misérias. Que o diga Victor Hugo em "Os miseráveis". Os mais devotados escritores exorcizavam diversos demônios como o silêncio cúmplice. Eram conscientes de nossa finitude e fragilidade, mas legaram ao futuro sua confissão: Humano, demasiadamente humano.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/05/2024
Reeditado em 16/05/2024
Código do texto: T8063880
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