UMA HISTÓRIA QUE PARECE MESMO SEM FIM
As tragédias acontecem muitas vezes como resultado das mudanças climáticas, outras por negligência das autoridades supostamente responsáveis, mas no final das contas todas se parecem, principalmente quando entramos no campo das suas consequências.
Geram num primeiro momento mortes e perdas materiais que obviamente comove a todos. Em seguida, vem àquela onda de solidariedade que abarca desde parentes e amigos e se expande de uma forma inacreditável.
Posteriormente o governo intervém com medidas emergenciais, antecipando o bolsa família, facilitando o acesso ao FGTS, criando alguma linha de crédito do BNDES.
No caso da recente tragédia gaúcha, embora as vítimas fatais tenham ficado abaixo dos eventos no interior das Minas Gerais, os estragos materiais e suas futuras consequências superam com sobras a tudo aconteceu anteriormente no país.
Enquanto boa parte da capital continua alagada, sem luz e sem água por negligência do prefeito atual e de seus antecessores, no interior a situação se encontra ainda mais crítica, com pequenas cidades literalmente apagadas do mapa e outras que perderam boa parte de sua estrutura urbana.
A comoção nacional gerou um movimento de apoio nunca antes tão forte e abrangente como o verificado neste momento. Todo mundo se sensibilizou, e frotas de caminhões partem de todos os cantos carregando insumos para tentar minimizar a desgraça que se abateu sobre o território gaúcho.
Desta vez, além de alguns estados deslocarem policiais e bombeiros, o governo federal criou um pacote financeiro super abrangente para auxiliar na recuperação do Rio Grande do Sul.
Assim como no esporte, que somente nos últimos anos chegou à mídia e de tabela ao grande público, que atletas não são simplesmente máquinas vivas de eterna superação física, eles também sofrem com o estresse dos exercícios e da ansiedade que antecede a uma competição planetária, e isso ficou patente pela declaração de alguns ícones da ginástica na última olimpíada disputada.
Bem, porque entrei nessa seara, numa crônica que tem como objeto a tragédia climática gaúcha?
Profissionais que se dedicam a área comportamental sabem que a região sul, ênfase para o Rio Grande, já gozam de forte tradição quando o assunto é depressão ou suicídio, afinal ambos os comportamentos primam por consistente e direta associação.
Agora, imagine o que poderá suceder, assim que águas e a poeira baixem, não são poucas as pessoas que perderam aquela simples, porém importante qualificação de moradores, isso vale também para os pequenos e tradicionais comerciantes que viram seu negócio naufragar diante da onda de lama que a tudo envolveu, e que algumas ainda estão sob o impacto da perda do conceito do que passou a ser família. Há uma semana, você convivia com uma geração para cima, e outra para baixo, e de repente, num rápido piscar de olhos, abruptamente se encerrou uma sagrada relação de parentesco.
O que pensar do seu bairro, dos seus vizinhos, daquela praça arborizada, de muitos bancos e que tantas reminiscências traziam, da padaria de seu Antônio, do boteco do Assis, da escola que você, seus filhos e agora netos iniciavam a vida acadêmica. Tudo virou lama e vai se transformar em pó.
Será que alguém já parou pensar em como tentar minimizar esses problemas que vão aparecer e crescer sem precedentes, assim como transcorreu com essa tragédia que vem evidenciar com todas as letras a cara desse novo normal.
Qual seria a saída para pelo menos tentar se adequar essa tortuosa transição repentina