Dona Luzia, "... a morte não é nada ..."

DONA LUZIA(1)

Nascida Luzia Pereira Fagundes, num 13 de dezembro de 1934, em Belo Horizonte, uma vez que foi ser professora, tornou-se conhecida como Dona Luzia. Anteriormente, as professoras eram mais reverenciadas e formavam seres humanos que usavam o "Dona" como sinal de respeito. Viveu a juventude no tradicional bairro Cachoeirinha e depois de casada adotou o bairro São Francisco como se fosse sua pequena cidade natal. Educou-se professora e, logo após, casou-se tornando-se Luzia Fagundes de Oliveira, uma guerreira com a luz que seu nome carregava.

SANTA LUZIA

Uma vez que nasceu a 13 de dezembro, ganhou o nome de Luzia, originado de Santa Lúcia, cercado de muito simbolismo e uma das Sete Virgens mencionadas no Cânon Romano, e que é venerada atualmente até na Escandinávia. O nome tem origem na palavra Lux (do Latim) e com história exemplar mas que traduz grande simbolismo por ser esta luz o que nos dá a capacidade da visão.

O Wikipedia indica, contudo, que o nome original da santa é "Santa Lúcia de Siracusa". Portanto, a partir disso surgiu a versão aportuguesada nominada Luzia. É provável que venha daí a sua forte ligação com a cidade de Santa Luzia, a princípio surgida em 1724 e vinculada a cidade de Sabará.

PROFESSORA

Dona Luzia fez do magistério uma vocação, gostava do que fazia e, por isso, era admirada por pais e mães. Por outro lado, era temida por alunos que faziam das suas e aprontavam horrores, mas que, com o passar dos anos, reconheciam a importância daquela professora e gestora de uma escola pública.

Em síntese, doou, com orgulho,  muito de sua vida à educação pública e à possibilidade de que menos favorecidos pudessem ter chances reais com o estudo. Era sempre um prazer inenarrável ver ex-alunos passando e gritando nas grades da nossa casa: "Dona Luzia, minha professora !"

A MORTE NÃO É NADA, DONA LUZIA

Ainda que, neste momento, eu não tenha palavras apropriadas, reproduzo um texto atribuído a Santo Agostinho. Um texto não apenas inspirador, que pode ser ouvido na palavra tranquila de Antônio Fagundes ou lido com acompanhamento de alguma música. Mesmo que seja lido diante de um silêncio profundo, será lapidar.

Sem dúvida alguma, proclamo que, ó Dona Luzia, minha mãe, a morte não é nada...

A Morte não é Nada

“A morte não é nada.

Eu somente passei

para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.

O que eu era para vocês,

eu continuarei sendo.

Me deem o nome

que vocês sempre me deram (Dona Luzia)

falem comigo

como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo

no mundo das criaturas,

eu estou vivendo

no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene

ou triste, continuem a rir

daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.

Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado

como sempre foi,

sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra

ou tristeza.

A vida significa tudo

o que ela sempre significou,

o fio não foi cortado.

Porque eu estaria fora

de seus pensamentos,

agora que estou apenas fora

de suas vistas?

Eu não estou longe,

apenas estou

do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,

a vida continua, linda e bela

como sempre foi.”

Santo Agostinho

VIDA QUE SEGUE

Da mesma forma como a Dona Luzia me ensinou, mesmo sem dizer uma única palavra, há mais de 46 anos atrás, temos que seguir em frente e enfrentar os desafios, certamente ela está dizendo "... vida que segue ...". Estamos de luto mas seu nome continuará sendo pronunciado por todos como sugerido por Santo Agostinho: Podem chamá-la de Luzia, Mãe, Vó Luzia, Tia Luzia ou qualquer outra referência, para mim será como sempre foi, simplesmente e eternamente, a católica fervorosa Dona Luzia.

Acredito, surpreendentemente, que eu tenha dito e a chamado muito mais vezes como Dona Luzia do que por "MÃE". Certamente, algumas pessoas sentiam estranhamento ao ver um filho chamando a mãe de "Dona", ela não ligava. Às vezes eu a chamava de mãe e ela sabia e dizia que quando eu falava isso é porque estava xingando-a. Desse modo, reconheço que, se ela entendia como "xingamento", eu via que ela sabia e entendia o que estávamos falando.

Esta luz é que deve ter me instigado ao hobby da fotografia, afinal, o que seria do planeta e de nossas vidas sem a luz que nos ilumina todos os dias?

LUZIA É LUZ

Assim sendo, continuarei dando o nome que sempre proferi; certamente, permanecerei sorrindo do que sorrimos juntos; e é provável que vou reproduzir o chamamento por Dona Luzia, sem nenhum traço de sombra ou tristeza, Luzia é luz. Como a maioria dos moradores do bairro São Francisco(2) a chamavam e continuam se referindo. a Dona Luzia.

Enfim, que seja como a padroeira a quem ela devotava muito  , Santa Luzia, "lux aeterna", um dia nos encontraremos no mesmo caminho.

De fato, as mil palavras neste texto são insuficientes para mostrar tudo o que sinto e eu desejaria falar. Deveria ter feito muito mais em reconhecimento a tudo que recebi, não consegui. Queria ter o poder de visitar todos os lugares do planeta onde ela esteve e anotar tudo que ela fez. Com toda a certeza, seria possível escrever um livro inteiro somente sobre as viagens que ela tanto amava.

Este texto é único, portanto, peço desculpas pelos erros e omissões, agradeço a todos a atenção e leitura, e como dizia Dona Luzia: Saúde e Paz !

P. S.

Para ver imagens e formatação original somente na publicação original.

Ao contrário da maioria dos textos do Blog, este não tem explicações ou recomendações.

Conseguimos enterrá-la somente hoje, 28/04, Dia Mundial da Educação. Coisas misteriosas da vida.

(1) Original pulicado em 27 de abril de 2021 no link https://evandrooliveira.pro.br/wp/2021/04/27/dona-luzia-a-morte-nao-e-nada/

(2) São Francisco - Faz-se necessário destacar a diferença do bairro São Francisco e a cidade de São Francisco do Itabapoana (RJ) onde fez amigos(as) e morou os últimos anos de sua vida. Certamente, ninguém imaginava uma ligação com tantos santos, mesmo para uma católica. Morando na praia de Santa Clara, daquele município do Norte Fluminense, perto de Porciúncula, era impossível associar tudo que fez na vida com estes nomes, lugares e santos.