TODOS OS DIAS AS MESMAS COISAS.
Jovens apressados, passos largos, olhares atentos, passando por mim como um foguete. Apesar que, nem todos são assim, alguns fogem a regra, dentre esses, poucos são o completo oposto da síndrome do apressado, mostrando-se lentos, passos vacilantes, olhares desanimados, como se ainda não tivessem acordados, seguem caminho como se alguém os empurrasse fábrica adentro. Muito diferente daqueles com mais idade, com experiência, os cabelos já grisalhos, a esses eu justifico a ausência de pressa e excesso de calmaria. Os mais experientes estão se mostrando os mais dispostos, talvez por já conhecerem "o caminhos das pedras", sabendo exatamente por onde e como seguir.
A empresa mudou muito, quem é mais antigo de fábrica, a velha guarda por assim dizer, sabe bem do que estou falando. Mudou em todos os aspectos, físicos, sociais, regras, capacidade de produção, tecnologia, enfim. Tempos atrás, coisa de vinte e cinco anos, a empresa tinha um procedimento totalmente diferente do que se vê hoje. Digamos que trabalhar era menos complicado, porém, não posso deixar de dizer, mais perigoso. Os protocolos de segurança vigentes praticamente não existiam. É claro, havia sim regras de segurança, frouxas, sem tantas cobranças, a atenção era voltada para produtividade, quanto mais melhor, contudo, o custo em acidentes era altíssimo.
Outra coisa que mudou é o quadro de funcionários, não somente na quantidade, mas também nos integrantes. Antigamente não se via mulheres nas áreas produtivas, como por exemplo, salas, fornos, fundição e até na transformação plásticas, tão pouco na refinaria da Alumina. Áreas essas de altíssimo risco, nível quatro. As mulheres figuravam unicamente nos escritórios, RH, enfim. Essa não é mais a realidade, hoje às mulheres dominam em todas as áreas da fábrica e desempenhando um trabalho de altíssimo nível, mostrando e definitivamente provando que não são o sexo frágil, pelo contrário. Deixo aqui registrado a minha admiração por essas guerreiras, principalmente para aquelas que são mães, nesse dia todo especial para elas, que é o dia das mães. Deixo registrado um feliz dia das mães, não somente para minha mãe, Elenice, mas para todas as mães, para essas guerreiras, companheiras incansáveis do trabalho diário.
Todos os dias vivemos as mesmas coisas, cada um em sua rotina monótona, em sua labuta de pequenos afazeres universais. Talvez a maior dificuldade de cada ser humano nessa fábrica não seja com o seu trabalho em si, mas, consigo mesmo, com o seu eu, com os sentimentos e questionamentos internos. Antigamente os turnos na fábrica obedeciam uma ordem diferente da que segue hoje, naquele tempo, o turno ininterrupto na escada universal de seis por dois, aliado há outros adicionais, permitem ótimos salários, que fazia valer a pena enfrentar condições de trabalho tão críticas, hoje, parte disso se perdeu. Mais uma vez me rendo a superioridade das mães, tirando de letra questões psicológicas tão complexas para nós homens.
Digamos que passou o tempo das vacas gordas aqui na fábrica, as terceirizadas atuando dentro da empresa oferecem salários que batem de frente com o que a empresa oferece para funcionários próprios, contudo, vale dizer que, os benefícios que a empresa oferece, com um ótimo plano de saúde, ainda faz certa diferença. Os tempos são outros, nem todos conseguem viver "todos os dias as mesmas coisas", sorrir, agradecer, chegar em casa satisfeito pelo que foi feito, ser grato sempre, ( eis outro ponto de grande superioridade das mães, parabéns a vocês guerreiras ). A verdade é que os dias nos ensinam coisas que os anos não sabem.