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Quando criança adorava olhar minha mãe a se arrumar no espelho de manhã. Ficava passando cremes no rosto,  seu pó de arroz cheiroso (lembro até hoje a marca - Cashmere Bouquet, cor Rachel), seu blush, e ficava a acertar seus lábios com seu batonzinho básico.

Eu ficava sentada num banquinho no banheiro a olhar para ela. Depois que terminava, colocava seu colarzinho, seu brinco delicado, e ia para o quarto trocar de roupa. Lá eu ia atrás, vendo-a escolher uma roupinha de ficar em casa, sempre bonita e combinada. Minha mãe era o símbolo da feminilidade. Uma coisa que me marcou muito era que depois de se arrumar, ela sorria para o espelho. Eu era tão pequena, e como aquilo me impactava! Eu ficava ali, de plantão, sempre esperando aquele sorriso final. Aquele sorriso era como um pintor que dá sua última pincelada em sua obra.

 

Uma das tarefas que minha mãe cumpriu muito bem foi ensinar-me a me amar acima de tudo. Por tudo que passei na vida, por qualquer situação, mesmo aquelas difíceis, eu me lembro ter acordado e dado um sorriso para minha imagem no espelho. Mal sabe ela como isso me ajudou a passar pela vida. Com aquele sorriso (mesmo amarelo, e às vezes um pouco forçado), eu sentia uma força vindo de não sei onde, dizendo: "Vai passar"... e realmente passava. Com certeza era aquela pincelada final do sorriso que eu precisava. E senti que em todos esses momentos eu me amei, e continuo me amando, com o passar da vida, aprendendo a cada vez mais me amar. Com meus defeitos e qualidades, mas sempre tentando -  olhar no espelho aquela imagem que sempre acredita que no fim tudo vai dar certo. Alguns me chamam de Poliana, mas em certos momentos posso parecer também uma artista mexicana em suas novelas mais dramáticas. Ou ser chamada como os americanos dizem: "Drama Queen" (A rainha do drama).


Nas muitas manhãs que passei com com minha mãe,  acredito que ela tenha me mostrado que o espelho é mais do que um simples reflexo. É um lembrete diário do poder que carregamos dentro de nós, um simbolo de autenticidade e autoaceitação.  Talvez a maior lição foi encontrar beleza nas minhas imperfeições e cultivar uma fé inabalável em mim mesma.

E é esse sorriso final a última pincelada de confiança que levo comigo a cada novo dia.

 

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 11/05/2024
Reeditado em 12/05/2024
Código do texto: T8061198
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