Triste dia das mães
Quando eu coloquei meu filho na cama à noite passada, cercado dos seus brinquedos, protegido, minha gratidão dividiu espaço com uma profunda tristeza. Pensei nas milhares de crianças em colchões num abrigo improvisado, e em tantas outras que nem tiveram esta “sorte”.
E pensei nas suas mães, desnorteadas, exaustas e com medo de um futuro incerto. Mas ali de pé, buscando forças, sabe Deus de onde. Aliás, sabemos sim. É daquele amor que se agiganta quando todo o resto sucumbe.
Pensei na angústia da mãe gaúcha que ainda procura seu filho, e no desespero daquela que sabe que nunca mais o verá.
Alguém pode dizer: mas todo dia é assim em alguma parte do mundo. Uma mãe vê seu filho em perigo, privado de tudo, morrendo de fome, sendo assassinado. É verdade. Num mundo tão individualista e automático, banalizamos a dor do outro. Nos acostumamos com ela. Procuramos virar o rosto, fingir que ela nem existe. Até que ela acontece no “nosso quintal”, talvez com parentes e amigos nossos.
Quando eu coloquei meu filho na cama eu chorei, como choro todos os dias desde 2 de maio de 2024. Do alto do meu privilégio e conforto, de longe, vejo meu estado arrasado, em todos os sentidos, pela maior tragédia que já o acometeu. Vejo cidades submersas, pessoas em cima de telhados implorando por ajuda. Vejo gente que perdeu tudo, de uma hora pra outra. Que não tem pra onde voltar, ou como garantir seu sustento. Sem água, eletricidade, sem esperança. Milhares de animais soterrados, afogados ou perdidos de seus tutores. Plantações devastadas. Mais uma mãe, a natureza, em total colapso.
Milhões de mulheres não terão um feliz dia das mães neste domingo. Mas, por favor, sintam-se lembradas, abraçadas e amadas por uma outra mãe, a nossa Pátria. O Brasil inteiro está conosco, e isso é dá uma esperança e um acalento na alma. Os anjos que são os voluntários e pessoal das equipes de resgate não deixarão ninguém pra trás. As mães, pais, brasileiros de todos os lugares não deixarão de ajudar vocês porque o ser humano é bom. Porque o amor vai prevalecer. A vida vai resistir.
As vidas perdidas não serão em vão. Vamos cobrar das autoridades, vamos mudar nossos hábitos, vamos sair diferentes dessa: mais humanos, mais fortes, melhores. VAMOS sair dessa. Casas serão reconstruídas, patrimônios restaurados. Ruas voltarão a ter carros ao invés de barcos. O gaúcho é um lutador. E não tá morto quem peleia.
Que a energia suprema, criadora (mãe) de tudo que existe, nos conforte e fortaleça.