DOCES MARCAS

Outro dia, lembrava-me do dia em que te conheci... era um dia quente, de um sol que ardia com a presença de um vento demasiado forte, que anunciava os últimos dias do verão.

Recordo-me que questionava os motivos pelos quais as coisas são como são. Mas por quê? Para quê? A mente humana às vezes devaneia-se na própria imensidão.

Respostas não obtive, apenas, mais questionamentos.

Até que um dia eu te vi e, num tropeço qualquer, num súbito e inconsciente momento de exposição, incorporei no peito as tuas impressões.

Tuas palavras, então, tornaram-se raios de sol que acariciavam a paisagem da minha alma. E, como a fogueira no breu da noite, descobriste dentro do meu íntimo as profundezas de um ser vulnerável e sedento.

Estas assemelhavam-se a uma espada afiada, que transpassara o meu peito no ardor de um afago, gerando a paz e a incerteza de uma dependência do teu existir.

Já não havia armas, dores, fôlego ou audácia em desafiá-lo.

Em ti, a "guerreira destemida" se deixou ser vulnerável, pois sabia que encontrara a completude de outra alma digna de contemplação.

As sílabas eram como um cinzel que esculpiam os meus abismos mais profundos e majestosos, viajando pela essência e descobrindo a decadência de uma alma ardente, despojada das máscaras e despida das vaidades de um amor-próprio fajuto.

Como podes ter a ousadia de me desmontar por completo, sem me dar a chance de ao menos tentar lutar antes de cair prostrada de admiração e fascínio?

Um recuo de espanto e deslumbre... foi assim no dia em que te vi.

Um abraço na alma que queima e arde... foi assim no dia em que senti teu vulto passar por mim, como o vento que transpassa a volta dos meus cabelos.

Deste então, eis uma alma indefesa e rendida, detida e incapaz de conter-se diante do teu toque, que na quietude e simplicidade conseguiste arrebatar um pobre coração, que jamais caminhará sem carregar consigo as dores e alegrias das tuas doces marcas.