Rezar para quê?
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Você também tem recebido pedidos de oração pelas enchentes do Sul?
- Sim. Muitos. Então, lembro-me que Jesus diz “Pedi e receberás; batei e abrir-se-vos-á”, e ainda diz que nenhuma folha cai sem que seja da vontade do Pai.
- E também diz que antes de pedirmos algo, o Pai já sabe do que precisamos. Sim, porque o Pai é onisciente, sabe de tudo. E onipresente. E onipotente.
- Temos tragédias por toda a parte. De um lado, gente batendo, pedindo, rezando e orando. Do outro, nada acontece; as tragédias só avançam.
- Verdade. Há algo de errado nisso. As pontas não fecham. Se Deus é justo, bom, onipotente, onisciente e onipresente, e temos essa tragédia aqui, mais as guerras na Ucrânia e na Terra Santa, então...
- Então... Ou essas tragédias são a expressão da vontade do Pai, ou nós acreditamos numa lenda. Lenda como Papai Noel ou Coelho da Páscoa.
- Bem, se as tragédias forem expressão da vontade do Pai, rezar torna-se ineficaz. E se estivermos acreditando numa lenda, rezar torna-se igualmente ineficaz. De todo modo, rezar só acaba aliviando um pouco a dor de quem crê.
- Pois, é. Se há um Deus bom, justo e onipotente, por que há tanta desgraça no mundo? Se um dos mandamentos diz “não matarás!”, por que há tantas mortes, inclusive de crianças? Há algo de errado aqui!
- Sim! Se Deus é bom e justo, ele não pode ser onipotente ao mesmo tempo. Se fosse, atenderia às preces e interferiria para diminuir o sofrimento dos que creem.
- Por outro lado, se ele é onipotente, ele não pode ser bom e justo ao mesmo tempo. Se ele pode tudo e nada faz diante do imenso sofrimento, será que ainda assim pode ser chamado de bom e justo?
- Então, ou as pessoas creem em um Deus bom e justo, mas não onipotente: não consegue fazer coisa alguma para evitar as tragédias. Ou as pessoas creem em um Deus onipotente, que poderia parar as desgraças, mas que não o faz e, portanto, não pode ser bom nem justo. Pergunto: rezar para quê?