o Crematório!

O Crematório!

A Emerenciana, nunca viu, mas discordou de mim, não é assim!

Eu, claro teimei, é deste jeito, assim como estou fazendo, queima um lado, eu com este espeto, longo por causa do calor, viro e o corpo vai queimando, decompondo, virando cinza, pó, mas muito mais rápido que o processo natural. Nada como o fogo para limpar, acabar tudo, inclusive impurezas!

Será que foi por isso que inventaram o fogo do Inferno? Faz sentido!

Volto lá para virar outra vez.

Estou num processo crematório, transformando em cinzas mais de trinta anos de anotações de conversas com pessoas, estórias de crianças e seus fantasmas, seus pais, seus corpos, suas almas, vivas...

Volto lá para virar outra vez.

O fogo lentamente vai consumindo relatos escritos de vidas, da minha vida com aquelas vidas, devagarinho, e pouco a pouco vai restando, como corpos cremados, só cinza, resistindo a memória dos relatos daquelas vidas, da minha vida com aquelas vidas... esta sim, só desaparecerá, por fim, com o crematório da minha própria vida!

Volto lá para virar outra vez.

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 05/05/2024
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