E agora, Zé?
Zé Coitadim é um dos mais puros e ingênuos eleitores conhecidos no continente. É daquele tipo disposto a tudo pelo seu candidato. Mais militante do que os próprios e mais cabo eleitoral do que os ditos. Sabe um pouco de alguma coisa e se acha antenado. Zé Coitadim, porém, tem na compaixão seu mais sincero sentimento. Sabendo da notícia (e quem não soube) da cassação do deputado José Dirceu, escreveu a duras penas e a sua maneira uma mensagem. Ajudado por um amigo, um recém incluso social, mandou seu recado pela internete depois de tentar entregá-lo em mãos.
E agora, Zé?
Bem que o Jéfesson disse; “sai daí, Zé! Pede o boné!”
Mas ocê achou que tava tudo bão, né?
Que que ocê fez que acabou desse jeito, Zé?
Parecia que tudo ia dá cerrltim, aí, pegaro no seu pé!
E agora, Zé?
Se ocê escrevê um livro pra contá do aconticido
Vai te que dizê tudim e aponta quem é.
Será que ocê tem corage? Larrlga isso dê mão!
Vá discansá, vá rezá pra São Francisco em Canindé.
Ou então, vá visitá seu amigo Fidé.
Vá lá na bodeguita, e encha a cara de mé.
Num convido ocê pra ficá no meu ranchim de sapé.
Aqui ta fartando de um tudo; num tem, nem pó de café?
A agora, Zé?
Que que ocê vai fazê de sua vida sem o tar de podêrrl?
Num vá ficá gachado num canto, coçando o dedão do pé.
Pega logo tua posentadoria, hôme! Faz como o Jefersso.
Os posentado, agora pode pega um dinheirim, facim,facim, Zé.
Eu inté sei como é tua dorrl. Magino cumé!
Tombem sei que “Rei de Rocada” ocê num é.
E que o Brasí tá ancim de coisa se assucedendo, né.
Então, não se aperreie, vai dá tudo cerrlto. Tem fé!
E agora, Zé?
Cadê os cumpanhêro? Tão tudo bão, né não?
O Delúbi, o Sirvim, o Vardomiro, o Guxiquim...
Diz que sastisfeito mesmo num tão.
Farta as coisa que tinha.Tão tudo com precisão.
Ô Zé, que paulada que deram nocê, hôme!
Eu vi na TV. Maginei que era o Papai Noé.
Os cabelo, as barrlba: tudim branquim,branquim.
Não tamo em dezembro? E o Natar, num é?
Bão, Zé! Então tá, então! Daqui uns ano ocê vorrlta.
Fica escondidim, mais um pocadim só, que não vai ce como da outra veiz. Ocê nem carece de fazê uma prástica, ói!
Faiz como o Jefersso! Fica devogano.
Tem um montão ancim de gente precisano.
Quarqué coisa que eu pudé fazê procê, Zé, é só pedi.
Moro perrltim daí, ocê já sabe o camim!
Zé Coitadim, queria entregar pessoalmente este bilhete em forma de versinhos, que fez com toda pureza d’alma. Mas não pode. Um segurança enorme, daqueles de terno preto e camisa branca, não deixou.