minutos finais
Ih, tarde demais. Ela me viu! Chamou o marido. O filho parece pesquisar imagens. Mostra o celular para a mãe e pergunta se sou eu na foto. “É ela mesmo”, a mulher responde. "Então, é venenosa", o guri fala. Corro pra debaixo da geladeira. Admiram-se de minha rapidez. Sinto-me lisonjeada por ser comparada a um tal super-herói. Não estão me vendo, mas este motor aqui é muito quente. O que é isso? Estão me cutucando com o cabo da vassoura! Que desaforo! Ao menos me fazem elogios: que sou muito grande, que sou perigosa, que sou rápida, isto e aquilo… Até bonita disseram que sou. O homem liga a lanterna do celular e tenta me encontrar. “Tá ali”, vibra ele e faz uma foto. “É ela mesmo”, diz a mulher. Pô, ela só sabe falar isso!? Não sei o que fazer. Aqui tá muito quente. Vou arriscar fugir. Eles me veem, mas consigo escapar e voltar ao esconderijo. Ah, não, estão arrastando a geladeira. Vou tentar correr lá pra fora. “Peguei!”, comemora o homem, me segurando com o pelo da vassoura. Esfrega, esfrega… Sinto cócegas no início, mas depois... “Ei, para com isso. Tá me machucando”. Sinto que é o fim. Oh, perdi duas patinhas… Ih, o guri tá com o chinelo na mão. Quer ser herói. Tive uma vida boa e cheia de aventuras. Um ano incrível!
PLAFT.