Expressões e “Palavras Antipáticas”
“Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões...”
Caetano Veloso- Língua
Pode parecer maluquice ou esquisitice mas às vezes antipatizo com expressões e/ou palavras. E mais: a chateação é tamanha que me irrito com uma simples menção ou referência da dita. Até a simples lembrança da pronúncia me incomoda.
Lembro agora uma expressão catapultada de uma novela: “ É VERO”. A “praga” se espalhou como fogo em mato seco e por um bom tempo esta “pérola” substituiu qualquer afirmativa. Ao ouvi-la, sempre respirava fundo e torcia para a novela acabar. Até hoje ,vez ou outra, *alguém arremata uma conversa: “e não é vero?” ...
Nossas expressões ou verbetes regionais são, por vezes, engraçados, criativos e me divirto muito com eles, porém há um chatíssimo que tem atravessado alguns verões : é o tal do “PENSE”. É de doer... “Pense isso”, “pense aquilo”...mas pensar que é bom nem pensar, principalmente quando a pobreza vocabular dos usuários se faz notar: “PENSE” tem sido o substituto para qualquer interjeição de surpresa, raiva ou admiração, dependendo apenas do trejeito que o acompanha. O uso em larga escala do vocábulo tem feito e faz um estrago no meu já impaciente ouvido. Idiossincrasias da idade?
Fico brava também quando meu filho diz “véi”, gíria desleixada da meninada do surf e tantas outras tribos. Olho feio para ele e lembro do olhar de meu pai quando me ouviu dizer “qualé?” Pois é, nada como o tempo para nos fazer rever nossos conceitos...
Mas a eleita da vez, a que ganhou minha antipatia este ano foi o tal do PRÓ-ATIVO/A* , verbete-jargão fartamente utilizado pelos fãs da “qualidade total”, outro clichê irritante, para o conjunto dos educadores de linha filosófica não mercadológica. Fãs dos SETE “qualquer coisa” e dos CINCO “sei lá o que” também usam o tal verbete indiscriminadamente, porém tenho observado que várias pessoas o utilizam sem pensar no que de fato significa, banalizando - para não dizer avacalhando - o termo. Ultimamente fico na dúvida se quem se refere a alguém assim quer elogiar ou detonar o sujeito.
Tentando digerir minha intolerância momentânea, assim espero, encontrei na revista LÍNGUA PORTUGUÊSA nº 24, na coluna MURAL, uma reedição de algo escrito por Paulo Mendes Campos no JB de 06/03/1988, intitulado “Palavras Antipáticas”. O autor descreve um personagem carioca pitoresco, Floresta de Miranda, que colecionava “Ojerizas Vocabulares” de famosos: Rubem Braga, Olegário Mariano, Mário Simonsem, entre outros.
Também no documentário “Maria Bethânia: Música é Perfume”, de Georges Gachot, a própria diz que implica e não canta “determinadas palavras”, mesmo sendo a letra do seu irmão Caetano. “Não canto nem Chico Buarque, que eu venero”, disse.
Enfim, maluquice, esquisitice ou mesmo ranzinzice, não tem problema: eu sou normal!!!!!
*A pessoa proativa é aquela que toma a iniciativa de realizar alguma tarefa antes de ser cobrada por isso ou que outro perceba a necessidade. Ela está sempre analisando o seu ambiente e vendo o que pode ser feito para melhorar. É um conceito intimamente relacionado à iniciativa e contínuo aperfeiçoamento.
**Nem de longe sou REATIVA, mas detesto modismos, detesto chavões e a utilização abusiva de qualquer termo, ainda que sejam dentro do contexto.
Maceió, 28/12/2007.
E Tenho dito.