O ANDARILHO DO MOSTEIRO

Eu precisava rezar.

E nesse início de ano, como quase sempre faço, procurei pelo Mosteiro Beneditino, um recanto de paz situado entre as Araucárias e as Hortências da região, sempre aberto àqueles que acreditam que Deus habita também entre a beleza das flores e o canto dos pássaros.

Circulava pelo jardins que tão bem conheço, entre funcionários de diversas áreas, quando avistei alguém caído ao chão, atravessado no canteiro que dava acesso à paróquia.

Pensei tratar-se dum funcionário que estivesse cochilando, mas o horário, sob o sol a pino do meio dia das montanhas, e a postura do seu corpo a obstruir toda a passagem dos que ali circulavam, chamaram-me a atenção.

Sobre sua face de tez negra, já se podia perceber a ação dos raios solares...

Acreditei que ninguém o observara ainda.

De olhos semi cerrados, respirava lentamente com algumas pausas demoradas demais para um simples cochilo. Abaixei-me e constatei que pulsava normalmente.

- Senhor, senhor...chacoalhei-o por algumas vezes.

Procurei por alguém.Informaram-me que não o conheciam. Nunca havia estado por ali.

-Chamarei a Madre Superiora, alguém me informou.

Ali ficamos.

Minutos após, ele despertava lentamente, meio zonzo e muito trêmulo, a me informar que no dia anterior bebera tres litros de Coca-Cola com conhaque.

Estivera num pronto socorro, e não comia há três dias. Alí estava apenas de passagem... passagem pela vida (?), pensei.

Assim que chegou, percebi algumas palavras da Madre para uma funcionária, que providencialmente o encaminhou para uma cadeira à sombra e lhe forneceu um par de botas de couro, que ali aguardava depois de doado por alguém, para que se calçasse.

Caiu-lhe como luvas!

Logo depois um pedaço saboroso de pão de abóbora e um chocolate quente, ambos produtos do Mosteiro, abrigaram-lhe a fome.

Ao me despedir lhe perguntei se estava melhor.

Olhou -me e respondeu-me com um tímido sorriso:

-Obrigado, vai com Deus!

Costumo dizer que nosso altar é a nossa vida.

São pequenos atos, nossas grandes orações cotidianas que modificam os destinos, ainda que momentaneamente.

Sem preceber, ali, no jardim do Mosteiro, todos já fazíamos a nossa oração.