E POR FALAR EM TROVAS...

E POR FALAR EM TROVAS...

"...ele foi verdadeiramente um

príncipe, pelo modo como

recebia as pessoas (...)"

A. JURACI SIQUEIRA - (in Diário

do Pará, de 23/abril 2024, pag 6)

Ajuntando jornais antigos para a reciclagem me deparo com página recente com foto da dupla de poetas geniais da nossa Belém contemporânea, ALONSO ROCHA e Juraci Siqueira. "Passei batido" pela reportagem dias antes, deixo para ler boa parte do jornal diário somente de noite e em parte da madrugada que a complementa. Talvez por isso não me lembre de ter lido a notícia.

Nela Juraci promete celebrar a obra do "Príncipe dos Poetas Paraenses" -- título mais do que merecido e vitalício -- no sarau "Chuva de Poesia", no salão ("foyer") do magnífico Theatro da Paz. Alonso partiu faz um bom tempo e desconheço se seu título já teria um novo "dono". Por ironia do Destino seria incrível que o título "caísse nas mãos" (e na cabeça) de seu fiel escudeiro, aquele que "perdeu" uma Cadeira de imortal que, aliás, era o desejo maior de Alonso Rocha para seu amigo de todas as horas. No terreno das Trovas eram quase "adversários", ambos imbatíveis em relação aos demais, porém quando o tema era SONETOS, o Príncipe se tornava "Rei" entre os mortais locais.

Embora eu tivesse alguma experiência com "haikais" (no original, HAIKU) -- que se parece com trova -- mesmo nesse terreno eu era apenas um discípulo esforçado e equivocado, tendo me baseado nas obras de Guilherme de Almeida. Este autor "abrasileirou" o tradicional poema milenar, enchendo-o de rimas (até "leoninas", estas no meio de cada verso), coisa que o terceto original dispensa, sequer exige de cada autor. De certa forma a Trova acaba sendo ÚNICA, sem precedentes, embora as quadrinhas populares e certos ditados do povo tragam em si o "germe" que originou a Trova atual, moderna. Vejamos um torto exemplo: "Sol com chuva, casamento de viúva... / chuva e sol, casamento de espanhol" !

Os menestréis -- nos palácios e fora deles -- os jograis e repentistas nas estradas e nas ruas de ontem, de hoje e sempre, reavivaram e aprimoraram as "quadrinhas" e estas deram vida a nossa Trova. "TROVA parece fácil, basta rimar"... pensam quase todos ! É uma conclusão ingênua, porque "derivada" da noção que temos sobre as quadrinhas... porém, a Trova evoluiu, a aparente simplicidade dela é ENGANOSA, uma "camuflagem" diria eu, que nos ilude. Pode-se passar um bom tempo "rabiscando" tolices rimadas e julgando-as trovas.

Há um consenso no Mundo trovadoresco -- embora haja espaços para trovas satíricas, picarescas e/ou "de circunstância", que descrevem fatos, eventos, casos e pessoas, sejam atuais ou antigas, do Passado -- de que a Trova que todos almejam VISA: 1) transmitir mensagem filosófica, um pensamento que toque o coração dos leitores; 2) LIRISMO, aquele "algo mais" indefinível, que poucas trovas trazem em si, e 3) o menos possível de vírgulas, de reticências, aspas e travessões , etc, tudo o que "atrapalhe" uma "leitura direta" da mensagem.

Portanto, REESCREVA sua Trova duas ou 3 vezes, porque a que primeiro nos vem à mente é mera pepita "em estado bruto", que exige alguma lapidação. Curiosamente, já tive trovas onde o terceiro verso a deixaria mais escorreita (?!) se ele iniciasse a mesma. Isso só percebemos analisando "por vários ângulos" nossa escrita inicial. O trabalho é árduo, BOA SORTE para todos no reino da Trova !

"NATO" AZEVEDO (em 28/abril de 2024, 17hs)

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Reproduzo abaixo singela trova de BASTOS TIGRE(1882 - 1957), jornalista e escritor pernambucano, esta suponho que dos anos 1930 e, a partir dela, desenvolvo outras, com o objetivo de mostrar como se molda uma Trova até se atingir o LIRISMO pretendido:

"As coisas tristes da Vida

eu as esqueço e abandono

de dia -- por muita lida,

de noite - por muito sono".

BASTOS TIGRE (PE)

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Quando a Vida dramas tece

e das tristezas sou dono,

todo o mal desaparece

com lida ou noite de sono.

Se com dramas "me atrapalho"

e as tristezas vêm à tona,

as afasto com trabalho

e de noite com bom sono.

Se mesmo com muita lida

certas tristezas persistem,

pra nossa sorte -- na Vida --

a um bom sono não resistem.

As coisas tristes esqueço

e mil "grilos" abandono

se algum trabalho começo

ou quando me entrego ao sono.

Vivo ao léu -- qual cão sem dono --

com tristezas, pouca lida,

mas uma noite de sono

traz esperanças à Vida.

"NATO" AZEVEDO

(28/abr. 2024, 21hs)