CAIM E ABEL.
A cada dia que passa eu compreendo menos o ser humano, nem a mim mesmo, é até estranho dizer isso, mas a verdade trilha por caminhos incompreensíveis, dado ao nosso nível de relacionamento social. Somos assim, a nossa natureza é difícil de se lidar, desde os primórdios da humanidade. A relação entre um e outro, entender, aceitar sem impor a sua vontade acima dos outros, não é nada fácil. Às vezes, temos que olhar para nós mesmo como se estivéssemos do lado de fora, olhando-nos como se fôssemos um estranho, na tentativa de entender os sentimentos mais profundos da nossa alma.
Caim matou Abel, o primeiro assassinato narrado no livro sagrado, os primeiros humanos, a primeira família segundo a narrativa bíblica. É interessante analisar a história escrita no livro de Gênesis. Caim era agricultor, por assim dizer, Abel, pastor de ovelhas, ambos fazem uma oferta a Deus, Caim com o produto do campo, Abel com uma ovelha. Deus se agrada mais da oferta de Abel. Veja que nasceu no coração do irmão agricultor sentimentos de inveja, e outros mais que talvez nem imaginamos, a relação deles parecia normal, porém, Caim não sabendo lidar consigo mesmo, com a complexidade de seu próprio eu, matou violentamente o seu irmão. Não havia influência de mídia, de outros, nada disso, era apenas ele e seus questionamentos internos. Caim poderia ter outra atitude, ter conversado mais com a própria família, expor o que estava corroendo-o por dentro com Deus. Tentar lidar com as suas "vozes interiores", mas não foi o que ele fez.
Às vezes, ou para não dizer na maioria delas, lidamos com situações muitíssimo complicadas, que envolve não somente os nossos sentimentos, aquilo que sou ou queria ser, mas, também aos outros e seus sentimentos e vontades. Ninguém é igual a ninguém, cada um trás os seus próprios "eus", agregados a consciência, se é que posso chamar assim, e temos que saber lidar com nós mesmos e com os outros.
Eu, por exemplo, trabalhei muito tempo em comércio, e tive que aprender a lidar com os meus sentimentos, aprender a me controlar, entender aquela pessoa figurando diante de mim, olhar além dos olhos, ter empatia. Foram tantos momentos difíceis, instantes em que o Caim desejava se impor na sua ignorância primitiva, contudo, aprendi a ter calma em meio a tempestade, a me colocar no lugar do outro, entender o que aquela pessoa desejava. Todas as vezes em que eu fiz assim, e ainda faço, o resultado é sempre positivo, aprendo um pouco mais comigo mesmo e com o meu semelhante.
Infelizmente, não é o que acontece na maioria das vezes ao nosso redor e derredor. A falta de compreensão, de se pôr no lugar do outro, de se abrir mais para o diálogo é a causa de muitas discussões, discórdias e até mortes. O mundo está caminhando muito diferente, mais para a incompreensão de Caim do que a mansidão de Abel.