FIM DE CICLO

( OBS.EMBORA TENHA ESCRITO EM 2003, ACHO O ASSUNTO PERTINENTE NOS DIAS DE HOJE)

No momento em que me sentei frente à terrível máquina, sentia que necessitava transcrever pensamentos e sensações, mesmo opiniões sobre fatos e coisas que somente seriam indeléveis dentro do contexto do pensamento no momento que passasse para o físico visual através da escrita.

Os meus sonhos e pensamentos, meus desejos, anseios e sofrimentos sempre ficam como meras observações diante das relações que o mundo criou para si e para o convívio dos seres humanos.

Quando me refiro ao mundo, falo do homem como coordenador e responsável por todas as transformações que ocorrem diante de nossos olhos em todos os momentos e somente poucas são as pessoas que ainda conseguem ver ou enxergar.

Quando meu pensamento procura uma correspondência onde possa se apoiar, sempre vem a minha cabeça o velho pensamento: “Quanto mais nós aproximamos da luz, mais aumenta nossa sombra”.

Enquanto vago por espaços ainda não ocupados, procurando dar e encontrar um sentido para a vida do homem neste fim de ciclo (não de século), tento encontrar ouvintes que possam não somente ouvir mas sim, entender o que se encontra escancarado diante de todos e que somente alguns conseguem perceber.

A cegueira é geral, os conceitos, os valores, os objetivos são apenas meros aspectos de uma realidade irreal, onde cada um tenta se dar bem, independentemente dos outros. E os semelhantes apenas sobrevivem dentro do mundo onde vivemos.

Não são apenas os bens que nos mantêm felizes e escravos da falsa felicidade mas sim, os valores que se perderam e que não mais conseguem nos alavancar para frente, rumo a um princípio onde se possa esperar não apenas um salvador mas, sim, que sejamos o próprio.

Os conceitos que as igrejas criaram e inventaram com as tradicionais promessas impedem que possamos atuar como partícipes da transformação e fiquemos como meros expectadores, sofrendo e esperando que Deus venha nos dar aquilo que nem mesmo merecemos.

A salvação, esperada pela maioria, são ilusões que os mantêm presos e cativos ao sistema que lhes promete algo futuro que mesmo nem eles sabem e acreditam que exista.

Talvez acreditem por não ter esperanças e motivos para tal. E outros pensamentos, quando surgem, deveriam trazer uma forma de livrá-los do cativeiro do medo, para conseguirem seguir rumo a uma civilização que fosse humanizada. Nossa experiência como resto da raça Ariana, deixou profundas marcas e danosas experiências à natureza, porém em quase nada acrescentou ao homem. Nem uma certeza de algo que possamos encarar com sendo o necessário para o nosso progresso espiritual.

Nossa geração, uma das mais sofridas de todo o milênio, irá arrematar todos os compromissos assumidos perante a Lei para cumprir as diretrizes da mesma.

Nem mesmo nós percebemos porque pretendemos ter uma salvação que foi “prometida” e que nos será dada mesmo que nenhum esforço seja feito para tal.

Tantos enganos nos empurram para a beira do precipício da insensatez e e leva o homem a se jogar no grande fosso da cretinice e hipocrisia onde está metida quase toda a raça humana.

Não podemos negar a existência de uns poucos que ainda procuram orientar e guiar a grande massa. Essa se porta como gado rumo ao abatedouro. Se olharmos a quantidade, fica evidente a disparidade onde se pode aquilatar o real aproveitamento do que foi ensinado com o que foi realmente aprendido.

Enquanto procuro me livrar das angustiantes levas de pessoas que sofrem, encaro como destino de cada um o seu sofrimento, porém o questionamento de co-responsabilidade sempre fica evidente. Procuramos sempre achar o responsável por tantos desatinos.

Vemos multidões que se deslocam e se arrastam por caminhos tortuosos, sofrendo e esperando que lhe amenize o sofrimento. Esta massa deixa levar-se por enganos; é nessa hora que sempre me vem à lembrança o pensamento: “Só é escravo quem se sujeita à escravidão”.

Ouvimos notícias de todos os lados, somos abarrotados de informações onde somente se evidenciam as guerras, as aberrações sociais que servem como incentivo à destruição dos últimos princípios de moralidade.

A mídia tenta vender de todas as formas um sistema que se encontra falido, mas que mantém meia dúzia no topo do poder para mandar e serem obedecidos através de campanhas elaboradas, onde se tenta vender toda sorte de bugigangas, como se tudo fosse necessário para a felicidade humana.

O pobre homem mais parece macaco que passa a imitar tudo que lhe é mostrado e ofertado como sinônimo de modernidade e felicidade.

Diante das absurdas mensagens que são dirigidas, seguimos como se fôssemos apenas um bicho que obedece ao comando do dono.

Datas comemorativas são criadas com o único e exclusivo objetivo de vender, gerando com isso a falsa ilusão de felicidade. Desejamos paz, enquanto fazemos a guerra como justificativa para a liberdade.

Queremos ser ouvidos e, no entanto, ainda não conseguimos ouvir nosso semelhante e neste hiato entre o falar e o ouvir surgem motivos de sofrimento de quem realmente deseja e quer viver em paz.

Ficamos reféns do medo e hoje vivemos atrás de grades que nos protegem de algo que ainda não conseguimos entender o que seja.

Enquanto nós nos encastelamos por detrás de grades e muros, tentando evitar os males do mundo, esquecemos que este mesmo mal já se encontra instalado dentro de nossos lares e dentro de nós mesmos.

Ainda não conseguimos entender que aquilo que ouvimos é tão prejudicial quanto o que falamos, quando não se tem por objetivo uma relação sadia onde se procure apenas o verdadeiro entendimento.

Novamente somos compelidos a seguir regras que foram criadas e são ditadas por todos os meios, para que sigamos sem nunca contestar tudo que nos é impingido, mesmo que o sofrimento seja a constante em nosso ser.

Hoje somos vítimas do mundo e principalmente de nós mesmos, pois nunca queremos fugir e procurar descobrir as grandes verdades que nos são apresentadas. Nós sempre rejeitamos por imaginar que a felicidade pode ser adquirida mediante alguns trocados.

Agora, neste fim de ciclo, sempre surgem os salvadores, aqueles que possuem as soluções para todos os problemas dos outros, porém se esqueceram de resolver seus próprios problemas.

Suas soluções têm sempre um único objetivo: Satisfazer seus anseios e manter o seu eterno domínio sobre o corpo e a alma de homens e mulheres que se sujeitam a todo tipo de sorte de comando, pois já há muito deixaram de pensar.

30/12/03-VEM

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 06/01/2008
Reeditado em 08/03/2009
Código do texto: T804966