CONFUSÃO

O computador está ligado desde às 10h, tinha esperança de conseguir escrever algo, sobre alguma palavra, como sempre faço, mas as palavras que me vinham à mente não me provocavam a vontade, a inspiração, o desafio de escrever sobre elas, algumas, inclusive até já escrevi - agora é assim, antes de começar a escrever tenho que ver se já não escrevi sobre a palavra, aconteceu com INCÔMODO, então denominei como em outras, II -, e assim nada me fazia parar para digitar como sempre faço, as palavras, o assunto brotando e eu digitando. Mas, agora, a essa hora, 23h, me veio a palavra confuso, por ser o que mais tenho me sentido nas ultimas duas semanas: CONFUSO. Tenho feito muita confusão de dias, de horas, já pensei no que poderia ser, mas não consigo entender. Talvez, me ocorreu agora, a glicose que anda acima de 200 durante o mês todo. Sou diabético há 43 anos, e faço o controle quase diário. Nos últimos três meses andava baixa demais, chegando a estar 38 e o meu estado, quando isso acontece, é deplorável - a sensação que tenho é que não tenho ossos, parecem cartilagem, pois não consigo manter-me em pé; fora o suor frio, e a tremedeira - enfrentei esses sentidos por várias vezes dando aula, nesses anos todos de correria absurda, saracoteando de um lugar a outro, de cidade para outra no mesmo dia (fazia turismo) e a alimentação deixada de lado, mas aguentava firme, e superava os altos e baixos da glicose. Porém, atualmente, com a idade, meus recursos estão escassos, e a capacidade de superação está bem menor, praticamente sem.

Fui no médico ontem e esqueci de falar pra ele sobre essa confusão que está acontecendo na minha cabeça, nos meus pensamentos. Hoje mesmo, comentei com meu filho mais novo, que faz 30 anos em 25/04, ou seja, quinta feira, e eu achando que hoje fosse 24, perguntei a ele onde seria a festa. Daí ele me situou que hoje era 23, e seria só na quinta-feira, e hoje era terça. E assim eu ando, mesmo ele me avisando isso pela manhã, por volta de 9h, durante o dia me perdi total várias vezes em situações diversas. Agora há pouco conversando com minha filha, ela ocupada durante a semana toda no trabalho dela, com uma entrega para dia 24, e eu achando, e insistindo que seria hoje. Essa semana teria que participar de eventos literários, mas confundi as datas todas e nenhuma me veio à mente que seria para essa semana. Simplesmente passou.

Vejam o absurdo da confusão que está se passando lá dentro da minha cabeça. Meus neurônios devem estar desconectados, devem ter se fundido, devem ter se derretido nessas quedas absurdas dos níveis de glicose, bem como quando vai lá nas alturas. Chamam de Diabetes Descompensada. Eu me sinto descompensado. E isso eu não aceito. Sempre me cobrei muito em estar sempre atento a tudo, lembrar de tudo sem precisar de agenda - ganhava várias agendas e nunca precisei usá-las, ficava tudo gravado na minha cabeça e não falhava nunca, então dava de presente - e atualmente é difícil pegar o hábito de usar agenda, anotar o que preciso fazer.

Não sei se é a demência que está chegando. Assim os médicos neurologistas disseram que iria acontecer depois que tive um AVC transitório, em 09/10/2013, dando aula de Contabilidade em Canoas. Consultei com vários Neurologistas, fiz, ressonâncias e outros exames, me aplicaram testes ridículos, que não precisava muito estímulo visto que eram testes que aplicava nos meus alunos para prepara-los a enfrentar processos de seleção de trabalho. Teve um teste, eram 3 neurologistas, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, para me aplicar o teste mais profundo, mais longo, mais difícil, mais complexo, e me exigiria pensar mais e outras coisas mais que me disseram. Informaram-me que o teste duraria por volta de 1h30 ou mais, era o tempo que as outras pessoas da minha idade, na época 52 anos, levavam para realizar todo ele. Começamos e a Neuro teve que parar para gravar minhas respostas, porque eu estava indo rápido demais e ela não acompanhava. Levamos 40 minutos, Ela ficou admirada e o laudo que me entregou depois de um mês, era que eu estava absolutamente bem. Minha memória estava ativa além da minha idade, e tantos outros resultados positivos. Mas eu, dentro de mim, me cobrava e não me aceitava com a deficiência que sentia estar, em não conseguir fazer cálculos sem usar calculadora, ler livros que sempre foi o meu maior hobby e meu maior prazer, tinha que ler vagarosamente e repetir a leitura para entender. Repetia os conteúdos em sala de aula, os alunos me avisando que já havia falado tal assunto. Além de repetir, tinha que ler os livros ou polígrafos para conseguir uma linha de raciocínio, pois estava confuso demais e não lembrava a sequência do que estava dando. E isso foi me incomodando, porque tinha uma memória louvável. Nem eu entendia como eu conseguia absorver tanto conteúdo, tantos assuntos na cabeça, sem usar livros, sem calculadora e respondia a tudo que me questionassem. Até que parei em agosto de 2016, por me cobrar demais. Sou extremamente crítico com as pessoas, e muito mais comigo mesmo.

Escrever esses artigos, esses textos, estava sendo uma maravilha, as palavras vinham, flutuavam na minha cabeça e eu escrevia. O que sinto estranho é que depois de lançar o livro com alguns dos textos, comecei a perder o interesse em escrever. Quem acompanha pode perceber que era quase que diariamente eu escrevia algo no Blog e enviava para as pessoas. Agora, escrevo pouco e não sinto aquele interesse em escrever mais. Tenho escrito mais poesias, o que tinha alguns anos que não escrevia. A inspiração está mais para poesias (nem sei se é poesia, são frases que expresso, não o que sinto, mas o que percebo) e assim tenho escrito. Tenho participado de eventos literários e isso me faz bem, mas a confusão continua pairando nos meus pensamentos, minhas ideias, minha vida.

Mesmo confuso vou continuar escrevendo, porque escrever, me faz bem, me faz sentir que ainda tenho capacidades para expressar meus sentimentos, meu pensar, meu jeito de ser. Quem lê, com atenção, o que escrevo, consegue me entender e me conhecer, pois expresso tudo o que sinto e o que penso. Assim sou eu.

O que tu tens pra me dizer sobre essa CONFUSÃO? É coisa da idade? É falta de exercícios (caminhava 9 km todos os dias quando morava em Porto Alegre. Aqui não consigo ter esse ânimo - até tênis para caminhadas comprei, e ainda está na caixa. Amigos e amigas e filhos, filha, nora me cobram fazer academia para melhorar a massa muscular. Fico dando desculpas, empurrando o dia para um dia qualquer e assim vou levando)? O que tens pra me dizer?