JUSTIÇA CEGA, SURDA E MUDA
Foi durante aquele interminável período da pandemia, que além de permanecer trancafiado em casa e paranoico com tudo que chegava da rua, que efetivamente me descobri como escritor iniciante, recuperador de qualquer objeto, produtor de mudas, e claro, ansioso por voltar a viajar país a fora.
Recém aposentado, e forçosamente integrado às dependências da casa que habito, então com lucidez, resolvi olhar para o futuro, afinal em algum momento tudo retornaria a normalidade, e essa forçada reclusão me instigava a sair à procura de viagens internacionais, logo que as fronteiras voltassem a ser abertas.
Tanto a empresa 123 milhas, como o Hotel urbano jogaram suas iscas e me fisgaram, afinal em ambos os casos, pagaria mensalmente um valor baixo, porém depois de quitado, precisaria ainda aguardar um ano para concretizar a aguardada viagem.
No caso do hotel urbano, foram dois os pacotes de viagem adquiridos, um para estadia por uma semana em Pernambuco e outro para Cuba, de também uma semana, incluindo estada em Havana e Varadero, um sonho acalentado há muito tempo.
Até conseguiram cumprir o acordado para o Nordeste. Então, passamos a aguardar ansiosamente nossa viagem caribenha. Quando faltavam alguns poucos dias para o embarque fomos avisados que não conseguiriam cumprir o contrato, e, portanto, nos reembolsariam os valores despendidos. Estou falando do ano 2022, e estamos ao final de abril de 2024 e o processo burocraticamente tramita na instituição. E o site avisa a praticamente dois anos que em breve reaverei meu dinheiro.
Com a 123 milhas, a compra foi a de duas passagens aéreas RIO x Lisboa x RIO, que deveria se concretizar semana que vem. No site dessa empresa, que se acessa com login e senha está tudo certinho, número do pedido, nomes e datas da viagem e etc. Mas isso é só para inglês ver, na realidade a vaca já foi pro brejo, mas ninguém tem pelo menos um verniz de ética, para assumir e relatar os fatos ao cliente, que nessa altura do campeonato necessariamente preparou toda a infraestrutura mínima para fazer uma viagem sem percalços, fato agravado porque ambos gozam de idade avançada.
Se você pessoa física, der uma pisadinha que seja na bola, comerciantes imediatamente colocam seu nome no SERASA, ficando assim impedido de conseguir crédito, ou seja, suas compras ficarão restritas a modalidade a vista.
Por outro lado, essas duas empresas, apesar de debocharem de seus clientes, continuam a operar seus serviços livremente, como se num passe de mágica houvesse duas instituições distintas, uma que vende serviços e outra que não executa, mas a similaridade se restringe ao nome.
Nesse tipo de atitude além dos danos financeiros caberia dano moral? Como seria calculado o custo de tanta frustração, principalmente se isso incide sobre duas pessoas idosas, e os seguros pagos inutilmente, o tempo e valor necessário para abrir uma conta internacional e o planejamento desde a compra de medicamentos e a reserva de hotéis que precisam ter alguma antecedência. Será que existe uma fórmula mágica de onerar a irresponsabilidade dos proprietários dessas empresas.
O governo que tem tantas agências reguladoras, para que supostamente agirem em prol dos mais fracos e por isso mesmo mais prejudicados tem a quem recorrer?