Há dias em que tudo parece perfeito. Você acorda em paz com o mundo, sem se permitir pensar em mudanças repentinas ou preocupações futuras. É como se houvesse um escudo interno que protege contra qualquer ferida emocional. Hoje é um desses dias.
Antes do café da manhã, abro a janela para escutar a sinfonia dos passarinhos na primavera, interagindo com eles de forma lúdica - imito o som e um deles me responde. Os outros ficam em silêncio, acredito que pensando que não sou um passarinho!
Nem mesmo a pilha de roupas para lavar me intimida; afinal, a máquina faz o trabalho. Mesmo sem seguir à risca minha lista de afazeres - que adoro procrastinar - aproveito o dia com uma sensação de contentamento incomum.
Ao levar o lixo, arranho um "Buenos dias, como estas" ao simpático mexicano que com a máquina barulhenta, corta a grama do condomínio - mas hoje nem o barulho me incomoda! E ele sorrindo me acena.
Dou uma rápida passada no Facebook para reconectar com amigos e compartilhar momentos. O tempo voa sem que eu perceba - nossa, quase me esqueço! meu exercício! Tão crucial para manter essa leveza de espírito!
Pego o carro da minha filha, e vou para meu destino. Tenho que dirigir seu carro algumas vezes por semana, enquanto ela está no Brasil. A chapa do carro chama a atenção de todo mundo, alem do vidro fumê! Seu nome é Patricia, nos a chamamos de Patti, mas com meu "sotaque" era assim que eu a chamava: "Patchie". E ela mandou fazer essa placa para sempre lembrar de mim...
Antes do almoço mando para ela uma fotografia do meu prato vegetariano.
E em seguida pergunto o que ela vai comer hoje. -"Sopa de Tomate mãe!".
Por um momento senti até aquele vapor da sopa me envolvendo como um conforto, sabendo que minha filha, do outro lado do mundo, estava feliz - coisas de mãe... e a abracei em pensamento.
Essa simples resposta me fez perceber como a vida é uma receita simples, onde os ingredientes mais básicos podem criar momentos memoráveis e sentimentos inesquecíveis.
Depois, ainda na mesa, fiquei a observar o Roque lavando a louça, coisa que ele faz há tantos anos, sempre com o maior bom humor. Olhei para ele, e demos aquele sorriso cúmplice; depois, e em seguida, para minha cozinha, com carinho, parando meus olhos no quadrinho da parede:
(Reze mais, preocupe-se menos)
E é com esse pensamento que encerro esse dia perfeito, reconhecendo que a felicidade pode ser encontrada nas pequenas coisas; até mesmo, à distância, numa simples sopa de tomate.