CRÔNICAS CARIOCAS - LULU
A primeira coisa que aprendi ao chegar no Rio foi andar de Metrô. Quanto mais longe da superfície, mais seguro estaria, no meu reduzido raciocínio de tatu e, então, esta foi minha primeira pergunta no South: “O metrô fica longe daqui?”
Não, não ficava; era relativamente perto e acostumei-me rapidamente com as entradas e saídas. São Paulo tem um metrô com maior extensão e mais vagões, mas o Rio tem a vantagem do ar condicionado e a locução in english: “Next stop, Sing-Rooster Station”. Ou Cantagalo, para os puristas.
Na primeiríssima vez, notei no mapa das linhas um adendo: “Metrô de Superfície”. Imaginei, com meu raciocínio óbvio demais, que era um trem que transita sobre o solo, como em vários pontos da linha leste-oeste paulistana. Talvez por causa do solo instável, imaginei, não seria prudente cavocar em áreas de puro arenito e cloreto de sódio. Qual foi minha surpresa que o tal metrô de superfície era apenas um ônibus. Tocava música clássica, tinha ar condicionado, mas era um ônibus, pô! Pegava todos aqueles engarrafamentos da Av. Atlântica às seis horas da tarde, enchia de gente, tinha trancos, enfim, de metrô, só a intenção. E o inferno está cheio delas. E das boas.
Tirando isso, andar de metrô em uma cidade como o Rio é mais que urgente, é imprescindível. E o trajeto Siqueira Campos-Uruguaiana foi realizado com afinco durante as semanas de curso. Chegava uma hora que a gente passava os cartões e nem mais olhava pros lados, já sabíamos a plataforma correta: Zona Norte pro trabalho, Zona Sul pra casa.
É aí que entra o Lulu. Lulu Santos, pra quem não conhece, carioca famoso por suas musiquinhas dançantes dos anos 80/90. Toda vez que descia à plataforma enxergava: Zona Norte/Zona Sul. E lembrava do Lulu:
‘Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida já que a morte cai do azul’
Reunir a Zona Norte à Zona Sul. Só pude entender a plenitude do verso estando no Rio e verificar que estas duas Zonas são paralelas, como as plataformas do metrô. Enquanto uma significava trabalho, outra era puro lazer. Uma era o camelódromo e a suadeira de um Centro quente, cheio de gente vendendo dinheiro com seus indefectíveis papeizinhos. Outra era o Leme, Copa, Leblon. Praia, glamour e prazer.
Paralelas. Só se encontram no infinito, como prega a Ótica.
Esse também foi o desafio de reunir nossa turma de abnegados 40 participantes. Reunir os interesses de uma turma de pessoas tão díspares era um desafio a ser vencido. Nem sempre conseguimos, mas todas as vezes tentamos. A formação de grupos com pessoas afins era mais que normal, não acredito em panelinhas no sentido espúrio da palavra, mas os grupos nascem espontaneamente e isso é mais que natural. Mesmo assim, reunimos, na maioria das vezes nossos interesseis austrais e setentrionais. Mesmo com tantas pessoas, em vidas paralelas. Aí começo a lembrar da Vanusa cantando a música do Belchior:
“E as Paralelas
Dos pneus n'água das ruas
São duas, estradas nuas
Em que foges do que é teu
Copacabana, esta semana, o mar sou eu.”
Chega. É uma droga já ser gente grande, pra poder chorar.