Festa do Interior
Parece, que era junho, mês de São João em Augusto Corrêia, estavam a conversar na praça...Preto, Inaildo, Filho, Alberto e Pão, sobre o que fazer naquela noite... quando Filho se aproximou e falou de uma festa no Patal, que animou a turma. E dentro desse pensamento Preto perguntou:
- E como iremos a essa festa?
Enquanto, Alberto oriundo de Belém, amigo de faculdade do Inaildo, mas já entrosado com a turma,
apenas observava... Pão falou:
- Por que vocês não vão falar com o Marciel ?...Ele empresta o fusca dele pra vocês irem até lá.
E Filho, ouvindo concordou e assim o fez. Chegando a casa do Marciel chapa deles, falou :
- Ô Marciel, emprestar o fuscão pra gente levar o Alberto em uma festa no Patal?...
Sem pestanejar Marciel disse:
- Eu não vou sair mesmo, mas me entrega amanhã lavado. O que completou Filho acompanhado do Preto:
- Com certeza e obrigado.
Pegou a chave do carro no ar e alegres estacionaram a frete da casa de dona Maria, mãe do Inaildo e Filho, que estava na frente observando o luar. Vendo a arrumação perguntou:
- Filho, o que estas fazendo com o carro do Marciel?
- Ah mãe, eu mais o Inaildo e o Preto vamos apresentar a noite de Augusto Corrêia ao Alberto. Toda cuidadosa ela alertou:
- Vê lá o que vocês vão aprontar ao rapaz. Cuidado meu filho.
E rindo a toa finalizou, quando o saudoso, seu Avanildo, o pai vinha chegando da beira:
- Não se preocupe mãe, o Alberto estará bem.
Lá pelas tantas da meia noite, após andarem pela quermece da igreja rumaram para a localidade planejada.
Descendo na escuridão das estradas interioranas, entrando em um ramal, saindo noutro, basculando o silêncio da mata até chegarem numa ribanceira e a descerem naquela viagem de uma velocidade viciante, de adolescente pra juventude...na alegria dos moços, na felicidade dos homens, que pra quem tem a vida pacata no Interior diria, loucura. E nesse contexto, depararam com igarapé corrente, em cheia, sob a tutela de um luar exaustivamente belo, entre as árvores a cochichar grilos e sapos, como não se ver em qualquer lugar.
Adentrando com o carro, sem o menor freio dentro daquela água gelada a traspassar de um lado para o outro, sem a menor resistência do carro, que ficou afogado e atolado. Obrigando os ocupantes a saírem pela janelas.
Não obstante a situação de dificuldade, que os rapazes enfrentaram na balbúrdia, Preto mal intencionado resolveu empurrar Alberto no mangue durante a ação de força para empurrar o carro, com a finalidade de desatola-lo e tira-lo do meio do igarapé. O que Alberto percebeu muito bem e se fez de morto, pra dar uma lição no Preto.
Na investida maliciosamente pandega do Preto, Alberto se esquivou, passando a perna no rapaz, que foi com sua roupa branca já ensopada diretamente na lama do mangue. Ficando de boto, completamente um porco a servir de galhofa pra todos, num quase incontrolável riso generalizado, que só teve pausa, quando o pobre Preto falou:
- Ei rapaziada, assim não vai dar pé. Estou todo molhado, sujo e ainda enfo gozado por vocês. Melhor parar, se não vou ficar sem jeito.
Com pena dele, de imediato pararam. Deixando o carro num local pra secar o motor e seguiram a pé até a festa do vilarejo do Patal.
Lá chegando, eles entraram numa maloca, redonda, coberta com palha e tapume, com uma aparelhagem espalhafatosa, onde havia muitas senhoras idosas e senhores dançando. E foram logo se aglomerando no imenso salão de dança.
Quando o disque joquei tocou as músicas americanas, que estava na moda ele pularam no salão, como gafanhotos e pulavam e se requebravam, para secar as roupas molhadas, isso lá por ua ou dias da manhã.
Causando um frisson na comunidade, que não estava acostumada nem ao ritmo frenético das músicas, muito menos a forma dos rapazes dançarem. Forjando um murmúrio inwuieto entre todos a sobressair assim no ouvido do Preto, dito por seu par:
- Olha, acho melhor vocês vortarem por onde entraram. Tudo mundo, está com medo de dançar , porque tão dizendo, que vocês tão drogados.
Preto sem se aguentar de rir, deixou seu par e foi correndo contar aos seus parceiros, que ao ouvirem tamanha tolice se esbaldaram em risos frenéticos e resolveram fazer mais no imenso salão, que logo foi esvaziando a ponto de ficar só eles pulando, gritando e rodopiando.
Depois de tamanha loucura, eles saíram da festa rindo a toa, por ainda perceberem o olhar abismado e bastante assustado das pessoas, daquela localidade.
Ao chegarem no carro, sob a escuridão da mata e aquela constelação de estrelas no céu se divertindo, a história era outra, saber se o carro iria funcionar.
Como tudo mais foi loucura, já com as roupas quase secas empurraram o carro ribanceira a baixo e quando o carro respondeu voltaram pro centro de Augusto Corrêia a findarem aquela noite nos suspiros da quermece, que hoje nos presenteia com uma lembrança prá lá de boa.