UM CENTRO DETERIORADO

Caminhar no domingo pelo que é o ponto nevrálgico do centro do RIO, não pode ser considerado uma experiência das mais agradáveis, evidenciando os reflexos resultantes do que foi a política de especialização de uso do solo, que conseguiu expulsar praticamente todos os moradores do local, onde no passado residiu a maior parte da população carioca.

Hoje o eixo das Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas se transformou num cânion de concreto e vidro para quem tem a curiosidade de olhar para cima. Mas o pior fica mesmo reservado para o nível do solo, principalmente na Presidente Vargas, onde calçadas são protegidas de intempéries.

Transitei por elas após o meio dia na volta do CCBB, evitei a parte coberta, neste espaço ainda dormia um contingente grande de população de rua, universo composto quase que exclusivamente masculino.

Por outro lado, bandos de jovens, aí sim com predomínio feminino, acompanhado de muitas crianças com idade variada perambulavam pela via, ora na calçada das pistas centrais de rolamento, ora pela calçada protegida.

A insegurança local é tamanha, não vi policiamento em momento algum do trajeto que percorri. Logo outro grupo jovem se aproximava e mantendo seu curso, nem imagino para onde se dirigiam. E mais um novo grupo se aproximava...

Nessas calçadas, odores iam variando, ora prevaleciam fezes, ora urina e o calçamento irregular de pedras portuguesas ainda contribuía para reter líquidos e sólidos, seja em falhas, seja na interseção das pedras.

Poucas eram os pedestres a se aventurar no trecho entre a Avenida Rio Branco e a Rua Uruguaiana. Na Uruguaiana, sempre barulhenta e densamente povoada, naquele momento apenas guardava o lixo gerado no dia anterior, todas as lojas fechadas, até mesmo o acesso ao Metrô se fazia a meia porta.

Mesmo a estação Uruguaiana se mostrava sombria, com menos luminárias acesas, lojas fechadas e praticamente ninguém circulando em seu interior, interessante como cresce a dimensão dos espaços livres.

Enquanto aguardava a chegada da composição, pude notar que os trens com destino a Zona Norte passavam cheios de gente com a camisa da seleção brasileira, todos retornando do encontro chamado pelo ex-presidente, com a coordenação de um pastor popular.

Depois de longa espera, consegui embarcar, no interior do vagão alguns desavisados ainda se dirigiam em verde e amarelo para o evento em Copacabana.

Quando desembarquei em Botafogo, voltei a sentir a vida voltar a pulsar normalmente.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 22/04/2024
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