Cartas de Amor
SEMPRE sou alvo de gozação por parte de alguns amigos da minha geração. Aqueles que quando se reúnem nunca falam em modas e nem das manchetes do momento, mas se fartam de recordar o passado.
Uma das gozações que fazem comigo logo que chego (amparado pela bengala) é cantarolar num corinho desafinado aquela música de Waldik Soriano: “Querida, saudações, escrevo-te está carta não repares nos senões…”. Uma amiga que canta muito bem prefere uma versão cantada pelo Rei Roberto Carlos: “Ontem reli/ as cartas que te escrevi/ frases repletas de amor/ que por vicê eu senti, sofri…”. A razão disso é que numa certa época os enamorados se correspondiam por cartas. Era um tempo em que não havia a liberdade de hoje. Detalhe: o escalado para escrever as cartas era eu porque apesar de tímido e meio casca grossa tinha muita imaginação. Escrevia em letra de imprensa e os enamorados copiavam com sua própria caligrafia. Confesso que escrevia até as respostas de algumas amigas. Uma zorra. Descobriram depois que eu filava muita coisa de um livro, era veto, mas adaptava às situações e criava muita coisa.
O interessante é que para namorar nunca me utilizei de cartas. Bastou o olhar e priu. Mas que saudade do tempo das cartas de amor. Um dia desses me mostraram algumas todas amarelecidas mas que me emocionaram. William Porto. Inté.