A tão aguardada viagem de férias tinha chegado! Verão batendo à porta com a promessa de 40 graus, na cidade do mais famoso Pelourinho. Arrumando as malas, já que o vôo sairia muito cedo da capital e a pernoite se daria lá.
Não bastasse o temor de avião (sou daquelas que viaja com o volante nas mãos por 22 horas, mas perde com gosto o avião) estava um calor de fritar ovos no asfalto.
O sono me pegou antes da decolagem. Era um alívio existencial, estava no céu, entre as nuvens, com os pés pra cima! Não fosse aquela voz ao fundo. Juro que parecia sonho. Olhei pros lados, e fui ficando angustiada: estaria ouvindo vozes? Pretty soon, you're gonna be dead? Como assim? Lá estava a aeromoça intacta, nos meus olhos embaçados. Ao meu lado um triturador de semente na versão língua deslocada em 3 dimensões. O que estou fazendo? O cansaço e o medo me dominaram e num intervalo de 5 segundos, aquela canção que parecia uma mensagem pra minha mente insistia: Laughing in the face of love/What on heart you tryin' to do/It's up to you, yeah you. Peguei o terço e comecei a rezar. Todas as promessas foram refeitas, os olhos fechados e na mente um filme.
Queria ligar pros familiares, amigos, dizer que amo, despedir. De repente tudo apagou. Ou seria dormi de novo? Acordei com a decolagem do avião, já em Salvador. Mãos trêmulas, garganta dolorida, suor excessivo.
Ao levantar, vejo Maria procurando algo e pergunto: - O que houve?
- Perdi meu fone durante a viagem! Encontrou?
Olhei pra ela com cara de metralhadora: era isso? Não pode ser! Como vou cumprir esse monte de promessas?
- O que? Não entendi nada! - disse ela.
- É que Jonh Lennon não estava aqui cantando meu karma. E agora, num sol de 40 graus, estou rezando os rosários que prometi.
Jonh Lennon me paga!