DITIRAMBO

DITIRAMBO

Olá pessoal, hoje está um dia muito bonito, do outono já usufruímos o primeiro mês, temperatura amena agradabilíssima, já prenunciando a próxima estação.

Um bom dia para um ditirambo...

Que é isso?

Tá bom, o tio explica:

Ditirambo, trocando em miúdos, mas mantendo as velhas lições dos tempos do Português da escola clássica, quando estudavam detalhes dessa nossa judiada Língua Vernácula, diria que, como gênero literário, trata-se de uma composição em prosa e verso, que se manifesta como poema lírico livre.

Primitivamente, era o hino entoado nos festins e banquetes em homenagem ao deus pagão Baco. O ditirambo, que celebra os prazeres da mesa, notadamente a mesa a que não falta o vinho, procura reproduzir a desordem, o delírio, a confusão, o baralhamento das ideias dos convivas depois de um lauto banquete. Não possui forma fixa, notando-se nos versos – que são rimados ou não – a maior variedade possível de métricas.

Exemplo:

O brumal tempo agourando

Dos Rigeus alcantilados,

Em confusos, vago bando

Vem pintando

Rubros frios ouriçados,

As pungentes asas dando.

Ah! Célia amável! Que somos vítimas

De teus imanes ímpetos;

Volveu-te a força das cruéis rajadas

Os brancos membros trêmulos,

As faces carmesins, as mãos roxeadas,

Que faremos?

Com a fria estação fugiremos?

Eia, ledos; a Baco brindemos,

De seu fero rigor zombaremos.

Aqui temos

Largo esquadrado de grávidas botelhas,

Que as bocas vermelhas

Têm ainda arrolhadas.

Destapemo-las;

Despejemo-las;

Eis já saltam as rolhas!

E envolto em alegria

Três copos coroados

Já vejo, ó Clélia, de espumosas bolhas!

As orgias celebremos;

E c’os braços enlaçados,

Ledos brindes revezados

Hoje a Brômio tributemos;

Qual de nós libar primeiro

Do seu copo néctar puro

Tome posse do terceiro…

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(Curvo Semedo, apud J. Simões Dias, op. Cit, págs. 189-190)

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Bem meus amigos, desculpem-me o saudosismo da boa escola, mas, agora sim “trocando em miúdos”, esse clima pede mesmo hoje mais à tardinha, é o desfrute de um bom vinho!

Como prezo demais os diletos amigos, e como sugestão, segue aí a imagem de um que desejo vocês possam tomá-lo (Pêra Manca). Eu acho jamais tomarei… penso que seus taninos não serão agradáveis ao meu $paladar$… É mais ou menos como na fábula de Esopo, reescrita por La Fontaine, aquela da “Raposa e as uvas” … Foi só uma sugestão, eu fico aqui com um de menor custo, cepa incerta, mas nem por isso o desprezo, afinal, é de uva, e, nos tempos daqueles cultos à Dionísio, serviam-se quaisquer delas, direto de odres de couro ensebados. E, certamente distante das atuais pressões de marcas e marketing desse mercado competitivo e excludente…

Servidos?

Marco Antonio Pereira

Insight 20/04/2024

Ajudinha: livro Português para o Colégio, 2o. Ano de José Cretella Junior - 4a. Edição - 1955 - Cia. Editora Nacional - Exemplar nr. 2948

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 20/04/2024
Reeditado em 22/04/2024
Código do texto: T8045909
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