O Sentido da Vida na Perspectiva de um Materialista

Qual o sentido da vida? O que há na evaporada adega que é a vida que justifique toda essa epopeia existencial? Qual ideia ou sabor justifica e enobrece essa vida? É um gesto sem vigor, olhos secos esperando a miragem da morte, força direcionada ao vazio? Pensando objetivamente sobre tais questões percebe-se que não há um sentido inerente sobre ela, um fundamento máximo que justifique toda a odisseia humana. Nascer, procriar, produzir, socializar e morrer - vive-se um longo tempo na tragicomédia de não saber os motivos para suportar esse comboio existencial. Tanto perante o universo como diante das relações humanas há um vácuo terrível sobre essas indagações.

Reformulando a pergunta: qual sentido de levar a vida a sério? Por que buscar um valor supremo para a mesma? O que faz sentido é vivê-la de forma leve, experimentando aquilo que gostamos enquanto podemos (antes da fatal foice da morte). Até porque é inútil objetivamente toda ação diante do fim - tudo é realmente em vão quando se sabe que seremos nivelados ao pó da terra. Então por que não aproveitar este estranho passatempo existencial ao máximo que pudermos antes de termos de mudar para nossa última morada, a sete palmos abaixo da terra?

Cada um, a partir das suas vivências e valores próprios crie subjetivamente seu próprio sentido, já que objetivamente ela não existe. Não há deuses, mística, ideologia ou ciência que sustente racionalmente todo o fardo que é viver. Cada um desenvolve sua logoterapia – um auto-exercício de busca de sentido. Dessa forma, experimento a vida de forma simples, numa autossuficiência, bebendo nos seios mimosos dos desejos, numa vivência sem luxos e na inclinação para as coisas simples de se ver e sentir. Buscar ser sereno e avaliar os prazeres e dores contidos em cada gesto, em cada ato e extrair desses instantes apenas o estrito necessário à vida.

Além desse horizonte existencial, não desejo ser um títere da vida contemporânea - não nasci apenas para pagar contas, trabalhar e depois caminhar bovinamente para a morte. Lembro-me que tentei viver ao quebrar o cotidiano em inusitadas viagens mundo afora. Lembro-me que os bárbaros fins de tarde eram acalentados pelo carinho familiar. Lembro-me que os lábios eram refrescados num intenso vinho, o estomago forrado com a boa culinária e engenhosas ideias divertiam o cérebro. São essas experiências que suavizam todo o peso que é viver.

A vida está fincada num planeta mudo, inexpressivo e indiferente aos anseios do coração. As exigências racionais do homem são tentativas de firmar valores e sentidos ante a irracionalidade de tudo. Apesar de toda essa privação, enquanto estamos “deitados” numa maca rumo a uma total sangria (morte), o que importa é fazermos a vida subjetivamente valer a pena. É deixar as amarras de lado, a estultice das perfeições talhadas em santos e otários para viver toda a amplitude que há no decorrer da existência, fonte de passageiras riquezas. Nada de querer curar esse absurdo em utopias, religiões, conversões, apelos morais. Ser o grande ator do próprio teatro ao sujar as vestes com vômitos de várias feridas, mas conseguir enxergar tudo isso em crua dor e depois encontrar a própria cura. Ser capaz de experimentar diversos caminhos em nome de algo ou alguém que se ame... A vida é aqui e agora no mundo terreno e na movimentação dos átomos corporais.

Eu não faço questão de ser enquadrado na perfeita lógica, nos altivos axiomas filosóficos ou éticos, quero apenas apostar tudo nessa vida, brincar, aventurar intensamente. Cometer as maiores bobagens, consumir toda refeição ao redor. Eu quero abrir os pulsos para todas as experiências, mesmo que elas não levem objetivamente a nada, mas sempre vivendo livre, intensamente e sem remorsos. A vida objetivamente não é justa, é absurda – é manchada de incertezas, variáveis – mas deve ser gozada, curtida!

20.03.2017

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 19/04/2024
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