UM DIA
Um dia, vamos olhar para tudo isso e rir. Não do jeito de alguém que ri da própria desgraça, mas rir porque nos assustamos com tantas coisas quando crianças que agora percebemos a tolice e até mesmo a ingenuidade do medo. Hoje os fantasmas são outros.
Um dia, nos perguntaremos onde estão as pessoas que juramos ser eternas em nossas vidas, procuraremos e talvez, o achado seja que estão vivendo uma vida completamente normal, e as promessas ficaram no passado e já nem moram mais em nós.
Um dia, a comida não será mais com gosto de carinho de mãe, será mais processada, enlatados, a vida será corrida e pedirá rapidez na hora de se alimentar. Nos sentiremos como máquinas engolindo óleo e álcool para funcionar.
Um dia, a solidão não incomodará mais tanto quanto incomodava na adolescência. O que era solidão, virará solitude. O que era tristeza, virará calmaria. O que era falta, virará apenas um vazio aconchegante onde cabem coisas boas. A saudade virará lembrança e não doerá mais.
Um dia, quando menos esperarmos, os melhores momentos serão apenas vídeos e fotos em um drive esquecido. E perceberemos que aquilo era felicidade, apesar de no momento parecer ser só a vida acontecendo.
E quando algo assim acontecer, daremos valor, não a vida toda, mas a cada dia.