DOCE MEMÓRIA

Quem não gosta de um docinho caseiro, feito com esmero e carinho? Se tem um doce que me apetece e que aguça a minha memória, esse doce é o de abóbora, aquele simples que só leva na sua composição água, açúcar, cravo da Índia e um tiquinho de canela em pau. Somente esses ingredientes, somente

Pois bem, dispenso todos e quaisquer docinhos se tiver um de abóbora (o nome científico é Cucurbita, um gênero botânico da família das cucurbitáceas). Por que eu citei o nome cientifico de um fruto tão desprezado por milhares de pessoas?

Porquê eu valorizo esse vegetal, explico, ele é versátil na culinária, desde salgados a doces, é barato e fácil de encontrar. Por que estou a escrever este texto? Posso explicar, também:

Eu deveria ter cerca de cinco anos e trago na memória quando fui com a minha mãe à uma costureira. Lá, enquanto minha mãe esperimentava o vestido, a dona da casa gentilmente me ofereceu uma porção de doce de abóbora num pratinho branco e uma colherinha de inox.

Envergonhado, embora a mulher insistisse por inúmeras vezes que aceitasse, recuseio-o na mesma proporção que me fora oferecido.

Minha mãe, então voltando à sala, desaprovou veementemente a minha recusa, dizendo que eu não estava sendo educado, mesmo porque era sabido que eu gostava de um docinho de abóbora, enquanto ela saboreava todinho aquela guloseima, não deixando nadinha para o petiz. A minha timidez, ao não aceitar a oferta, causaria um trauma para toda a minha vida.

Naquela noite, tive um sono agitado e, em estado febril, pedi para a minha mãe que queria comer doce de abóbora. Amanheceu e, pacientemente, lá foi a Dona Santa em busca de uma abóbora para preparar um docinho para o filho dodói.

Diferentemente das doces lembranças dos docinhos de nossas vovós, eu tenho na minha memória gustativa esse episódio que acabo de relatar.

Desde então, eu não recuso em hipótese alguma um delicioso docinho de jerimum, vai que tenho uma febre, né?