A Feira em Frente de Casa

Começa por volta de 3:30 e 4:00 da manhã. Todos os Sábados acontece uma festa bem na porta da casa onde eu moro; eu ouço os caminhões chegarem e estacionarem, em seguida os motoristas conversam e brincam entre eles, ao mesmo tempo em que tiram as peças para a montagem das barracas.

Em meio a piadas, trocadilhos e comentários de gosto duvidoso sobre política, religião, futebol, novela, reality shows e até vida familiar, o papo vai de um ponto a outro sem que nenhum deles se perca (só eu).

Tudo isso enquanto lonas são estendidas sobre armações de madeira, caixas com verduras, frutas e legumes são descarregadas, uma senhora passa vendendo café da manhã bem barato e gostoso (eu já provei), que consiste em pão (média ou cará) com manteiga ou mortadela e um copo de café com leite recém feito e com um aroma que se mistura ao das barracas de tempero, especiarias, frango e peixe.

As horas avançam. Os primeiros fregueses começam a chegar para comprar tudo ainda fresco e aproveitar o resto do dia. Já são 5:30 da manhã; a essa altura, o cheiro do pastel toma conta da feira. E se tem pastel, tem que ter a combinação perfeita para ele: o caldo de cana, é claro (alguém deveria tombar os dois como patrimônio gastronômico/histórico brasileiro).

Isso sem falar nos modos criativos que cada um deles tem para atrair o freguês, que vão desde oferecer descontos em quantidade até cantar paródias bem humoradas (ou não).

Além deles, há os que dividem o espaço para outras finalidades, como o vendedor de meias (4 pares por R$10,00), o músico que toca de tudo (sério) no seu instrumento, a cantora que possui um repertório vasto e eclético, o consertador de panelas, o amolador de facas, entre outros. Tudo isso ao som de Marília Mendonça, MC L7NNON, Henrique e Juliano, Aline Barros, enfim os mais variados estilos da fauna e flora musicais brasileiras.

Meio-dia é a famosa Hora da Xepa (ou seria Chepa???), em que o feirante passa a vender tudo mais barato para voltar com o mínimo de mercadoria possível. É quando ocorrem as promoções mais incríveis, com negociações que dariam inveja em antigos operadores da bolsa. É também quando a feira se encaminha para o seu final; algumas barracas começam a ser desmontadas e outros convidados dão o ar de sua graça: os urubus, encontram farta refeição entre as sobras caídas na rua, que também são disputadas por pessoas com pouco ou nenhum recurso para comprar enquanto ela acontece. E ambos fazem isso enquanto o caminhão de limpeza da prefeitura não vem com garis varrendo e lavando a rua com jatos de água que empurram essas sobras para algum bueiro próximo.

Entre 15:30 16:00, a feira chega ao fim. Pouca coisa resta para lembrar, porém fica a certeza e o convite para o próximo Sábado em frente à minha casa.