"SOU CANHOTO E DAÍ?" Crônica de: Flávio Cavalcante
SOU CANHOTO E DAÍ?
Crônica de:
Flávio Cavalcante
No mundo da canhotice, existe uma dança peculiar entre a mão e a caneta, uma sinfonia de movimentos que muitas vezes passa despercebida. Enquanto a maioria desliza suavemente pela página, os canhotos enfrentam uma dança invertida, uma coreografia que desafia a norma estabelecida por uma sociedade hipócrita sem conhecer o significado da palavra ética.
Desde os tempos imemoriais, a direita tem sido sinônimo de virtude, enquanto a esquerda muitas vezes, foi relegada ao obscuro, ao sinistro. Uma herança cultural que permeia nossa linguagem e nossas ações. Até mesmo a palavra "canhoto" carrega uma conotação de desajeitamento, de algo fora do comum.
A discriminação contra os canhotos vai além das piadas inocentes e dos olhares curiosos. Na escola, muitas carteiras são projetadas para destros, obrigando os canhotos a se contorcerem ou a escreverem em ângulos desconfortáveis. Além disso, algumas atividades esportivas e ferramentas, foram concebidas para favorecer os destros, dificultando a vida dos canhotos.
Essa discriminação sutil, mas, persistente, pode ter raízes profundas na história. Em sociedades antigas, gestos com a mão esquerda eram associados à bruxaria, ao mal-olhado e à impureza. A própria palavra "sinistra", derivada do latim, carrega uma carga negativa que perpetua até os dias de hoje.
No entanto, é na singularidade dos canhotos que reside uma beleza inegável. São artistas da escrita, curvando-se em elegância sobre o papel, traçando letras que fluem de uma maneira única e cativante. São músicos, dançando entre teclas de piano ou cordas de violão com uma destreza que desafia a norma. São pensadores, vendo o mundo de uma perspectiva ligeiramente deslocada, trazendo uma nova luz para problemas antigos.
Então, talvez seja hora de desaprender os estereótipos, de abandonar as noções preconcebidas e abraçar a diversidade das mãos. Porque no final das contas, a canhotosidade não é uma limitação, mas sim, uma dádiva. É uma pequena rebelião contra a ordem estabelecida, uma celebração da individualidade em um mundo que muitas vezes insiste em moldar-nos em formas pré-determinadas.
Que abram as cortinas e acendam os holofotes para os aplausos aos canhotos, porém, seres de uma magnitude inteligência invejável e que realmente fazem toda a diferença perante aos “DESTROS” da sociedade imperfeita e hipócrita.
Flávio Cavalcante