O CHORO CINZENTO DO CÉU

Acinzentou-se neste amanhecer o céu ontem azul, fechando para nós a visão das nuvens brancas tão comuns no cotidiano. Em pouco tempo as comportas do espaço se abriram derramando os pingos grossos da chuva acolhida pela terra. O vento lhe fez companhia, ambos espantando os pássaros que se esconderam onde conseguiram na pressa de fugir da intempérie.

De resto, o silêncio quebrado apenas pelo sopesar dos respingos caindo nos telhados e nas vidraças das janelas. As folhas das árvores dançam conforme as rajadas molhadas da ventania, os pequeninos animais decerto procuraram abrigo onde lhes foi possível encontrar. Vi pessoas correndo com guarda-chuvas e sombrinhas, muitas delas provavelmente de antemão sabendo que chegarão aos seus destinos completamente encharcadas.

A chuva é democrática e justa, joga molhadeira geral sobre todos que ousam enfrenta-la, alguns por necessidade, outros também, claro, pois ninguém sai de casa debaixo d'água se não tiver razões plausíveis. Gostaria de pensar que uns tantos desceram as calçadas para tomar aquele banho divertido sob as porqueiras das casas e os pingos despencando do alto, como fazíamos muitos de nós em nossa infância. Talvez, tidavia descarto essa possibilidade devido à violência brutal infelizmente comum atualmente. Ainda assim, reconheço, ela não alcança aqueles protegidos pelo aço e vidros dos automóveis, embora isso não diminua seu ímpeto de ser rigorosa com todos indistintamente. A natureza não tem olhos nem coração.

Talvez neste dia chova o tempo todo, aparentemente o céu não parece disposto a mudar sua roupagem cinza. Para os aposentados iguais a mim, poetas, escritores e cronistas a única saída é chover palavras sobre o teclado do computador e deixar a imaginação desenfreada galopar nas estradas invisíveis da fantasia, dos devaneios e dos sonhos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/04/2024
Código do texto: T8042895
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