Entre Sem Bater - A Politica Tupiniquim

Duda Salabert disse:

"... não tenho prazer nenhum em estar na política, mas sei que tenho que estar lá ..."(1)

A luta da professora Duda Salabert é uma luta de muitos e muitas pelo mundo afora. Combate ao preconceito, luta pelos direitos iguais para todos os humanos e um pouco mais de racionalidade entre as pessoas. Contudo, mesmo defendendo causas que todo humanista deveria defender, sofre ataques de grupelhos e fascistas. Assim sendo, é totalmente compreensível e louvável a sua trajetória política.

A POLÍTICA

Com toda a certeza, política é um tema espinhoso demais. Como se não bastasse, quando entra no subtema política eleitoral(2) fica muito pior e mais degradante. Infelizmente, a cultura e a história no Brasil não permitiram à maioria das pessoas terem qualquer visão da importância da política. Como se não bastasse a deterioração dos debates e da falta de politização, as pessoas confundem conceitos de democracia e sistemas de governo. Desse modo, sem uma clara separação de tópicos e sem um nivelamento de conceitos, a polarização privilegia a ignorância e as mentiras.

Aristóteles disse que "... um homem é, naturalmente, um animal político ...". Por outro lado, constatamos que alguns animais humanos entram para a política para praticarem selvagerias e irracionalidades. Uma frase popular que se ouve sempre que qualquer debate aparece é: "... política, religião e futebol não se discute ,,,". Inquestionavelmente, nada mais absurdo, impopular, autoritarista e ditatorial.

Desde que iniciamos na arte de escrever crônicas, contos e outros textos, o interesse pela política cresce, quantitativamente. Contudo, não vejo nenhuma evolução na qualidade dos debates e com as redes sociais tudo ficou pior.

ANALFABETO POLÍTICO

No Brasil, a política é uma constante fonte de discussão, mas nem sempre essa discussão é construtiva. Muitas vezes, o que se observa são debates estéreis, com enorme falta de conhecimento e inexistência de uma verdadeira politização. Assim sendo, temos uma atmosfera confusa que, ao invés de promover o entendimento e o avanço democrático, privilegia a ampliação da ignorância.

Atribui-se a Bertolt Brecht uma adaptação de um original alemão que diz mais ou menos assim (original):

"Der Wahreber ist der Staat, der das Land beutet. Der Wahlsieger ist der Kandidat, der die Stimmen kauft. Der

Volksvertreter ist der Abgeordnete, der die Bevölkerung verrät. Die Opposition ist die Partei, die sich aufregt. Der

Ausländer ist der, der zahlt. Der Inländer ist der, der zahlt und schweigt."

Fonte: Volkswacht (library.fes.de)

A versão que circula, sobretudo no idioma português, tem uma adaptação e extemporaneidade impressionantes.

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, e do remédio, dependem das

decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos

que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

Reprodução: Internet

É provável que Bertolt Brecht, um revolucionário, nunca imaginaria o brasileiro que inunda as redes sociais representa o poema magistralmente.

IGNORÂNCIA POLÍTICA

Atualmente, no Brasil e no mundo, o problema mais grave é a superficialidade e desprezo com que a maioria encara a política. Muitos brasileiros veem a política como algo distante de suas vidas cotidianas, relegando-a a um segundo plano. Desse modo, não se engajam ativamente nas questões que afetam a sociedade como um todo e vivem no mundo das fantasias e crenças. Assim sendo, essa falta de interesse leva a uma falta de conhecimento sobre os processos políticos, as instituições e os atores envolvidos. Em outras palavras, esta ignorância política, com ou sem premeditação, alimenta os debates superficiais e a desinformação.

Como se não bastasse, há uma confusão ampla, geral e irrestrita sobre o verdadeiro papel da política e a quais interesses ela serve. Muitos associam política apenas às pessoas (políticos) e aos partidos, sendo que, na real, a política está presente em todas as esferas da vida social. Desde as relações familiares até as decisões econômicas, a política permeia todas as nossas interações. E, raramente, ações políticas não influenciam diretamente a forma como a sociedade se organiza e as pessoas se relacionam. Portanto, essa falta de compreensão contribui para a perpetuação de estereótipos e preconceitos sobre a política e seus atores.

Outro aspecto que contribui para os debates estéreis é a polarização política que as redes sociais promoveram nos últimos anos. No Brasil, as divergências ideológicas têm tratamento maniqueísta, como se houvesse apenas dois lados, opostos e irreconciliáveis. Desta forma, a criação de ambiente hostis, onde o diálogo é praticamente impossível, dá lugar a narrativas e desqualificações mútuas. Nesse contexto, a verdade e a busca pelo bem comum ficam de lado em favor de interesses partidários e pessoais.

Forma-se então um séquito crescente de ignorantes políticos que só sabem compartilhar mentiras que se tornam virais e sem controle.

EDUCAÇÂO E CULTURA

Darcy Ribeiro, muito antes da explosão das redes sociais dizia que a crise da educação no Brasil era um plano de governo. Em outras palavras, o político-educador-sociólogo afirmava, com razão, que os déspotas queriam manter a ignorância do povo. E, surpreendentemente, até este momento e nos próximos anos, esta é uma verdade insofismável.

A falta de uma educação política adequada também contribui para a confusão e a desinformação. Nas escolas, pratica-se o ensino de política com versões e narrativas que negligenciam o contraditório ou apresentam-se de forma superficial. Desse modo, os estudantes ou ficam confusos ou não podem compreender e participar ativamente da vida política nacional. Consequentemente, sem um conhecimento sólido sobre os princípios democráticos e os mecanismos de participação cidadã não existe participação. Os indivíduos se tornam vulneráveis ​​à manipulação e à propaganda, tornando-se presas fáceis para discursos populistas e simplistas.

Para reverter esse quadro, é necessário investir na educação política desde cedo. Não somente com a educação política, mas sociologia, filosofia, educação em economia, para promover uma compreensão dos valores democráticos e dos processos políticos. Adicionalmente, é fundamental incentivar o engajamento cívico e o debate público, estimulando os cidadãos a participarem ativamente da vida política. Certamente, com estes preceitos, o cidadão estará apto a questionar as informações que recebe e a obter todos os contrapontos. Enfim, somente assim será possível construir uma sociedade mais justa, democrática e consciente de seus direitos e deveres. Caso contrário, a escravidão política(3) e religiosa ainda persistirão por muitos anos, e retrocedendo.

VAI BRASIL, #SQN

Em suma, a falta de politização e de conhecimento sobre o verdadeiro conceito de política no Brasil alimenta debates estéreis e confusos. Portanto, o que vemos nas redes sociais é somente o avanço e perpetuação da ignorância e das mentiras. O analfabeto político de Brecht é o mesmo idiota da aldeia de Umberto Eco, o que ampliou muito a massa de manobra.

Mudar esse cenário é , se não impossível, uma tarefa para "Hércules" nenhum botar defeito. Mais do que investir na educação política e no engajamento cívico é necessário espaços de conhecimento e desmascaramento de mentiras. Promover debates abertos sobre estas polêmicas e polarizações deveria ser, sobretudo, o trabalho da mídia.

Entretanto, a mídia de massa e os modernos influenciadores(*) de redes sociais só querem faturar, alguns estão milionários. Desse modo, é pouco provável que consigamos ver, no curto prazo, uma sociedade mais democrática e consciente de seus direitos e deveres.

Ouso afirmar que, com as tecnologias avançando como, por exemplo, a inteligência artificial (IA), perdemos o jogo e vivemos numa manipulação eterna(4).

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Infelizmente, a categoria de influenciadores de redes sociais vai desde jornalistas com péssima formação e caráter, a verdadeiros bandidos.

(1) "Entre Sem Bater - Duda Salabert - A Política Tupiniquim" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/16/entre-sem-bater-duda-salabert-a-politica-tupiniquim/

(2) "Entre Sem Bater - Roberto Motta - Política Eleitoral" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/09/18/entre-sem-bater-roberto-motta-politica-eleitoral/

(3) "Entre Sem Bater - Gramsci - Escravidão Política" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/03/27/entre-sem-bater-gramsci-escravidao-politica/

(4) "Entre Sem Bater - Aílton Krenak - Uma Manipulação" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/09/entre-sem-bater-ailton-krenak-uma-manipulacao/