POETAS FLUMINENSES
UM POETA A CAMINHO DO CEMITÉRIO
Nelson Marzullo Tangerini
O poeta “parisiense” Mazzini Rubano, “o caçula do Café Paris”, como dizia meu pai, Nestor Tangerini, nasceu em Niterói, RJ, provavelmente em 1905, deixando uma obra não muito extensa.
Em 1928, “deu a estampa”, como se dizia na época, o poema “A costela que me falta”, um livreto, na verdade, onde anunciava, na orelha esquerda, o lançamento de outros livros seus, que, provavelmente, acabaram se perdendo.
Luiz Antônio Barros, em seu livro “Os poetas satíricos do Café Paris”, Clássicos Fluminenses, Volume 9, Organização e apresentação do autor, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2014, nos relata que Rubano “Escreveu em quase todos os jornais e revistas de sua terra”.
Conta-nos, ainda, o professor, que “Vítima de moléstia insidiosa, rumou para Belo Horizonte, onde, não obtendo a cura desejada”, resolveu abreviar sua vida, em 1936, aos 31 anos, portanto, se nossas contas estiverem certas.
Atormentado pela enfermidade, visita um cemitério e, ali, vislumbra seu fim. Diante da fúnebre paisagem, imaginária, talvez, escreve o soneto que ora publicamos.
“CEMITÉRIO
Contemplando de perto esta cidade,
Onde a vida para na eterna calma,
Tive um momento de pavor, minh´alma
Tremeu diante da fatalidade.
Senti, nesse pavor que ainda me invade,
Quando o silêncio sobre mim se espalma,
O grito de ambição, que não se acalma,
Estrangulado pela realidade.
Caí no abismo do aniquilamento:
A força fria do esmorecimento
Escraviza as minhas energias!
E vi passar a Morte soberana,
Carregando o estandarte do Nirvana
Na procissão das lápides sombrias!”
Brasil dos Reis, outro poeta “parisiense”, compôs, em sua homenagem, o soneto que ora publicamos:
“MAZZINI RUBANO
Foi rápida e febril sua existência,
Por um destino ingrato conduzida,
Alicerçada em brônzea inteligência
E na áurea trama da ilusão vestida.
E o poeta a aspirar a quinta-essência
Do gozo foi, no ergástulo da vida,
Um vencido nas lutas da consciência,
Tendo a alma em duros transes sacudida.
No entanto, olhando a natureza em festa,
Talvez quisesse, em versos inspirados,
Cantar o sol e a pompa da floresta.
Mas, buscando da vida o torvo arcano,
Soube pintar, em tons desesperados,
As angústias brutais do ser humano”.
O livro do Professor Luiz Antonio Barros é, portanto, muito importante para robustecermos nossos conhecimentos sobre os poetas do Café Paris, fluminenses que enriqueceram, com talento e beleza, a vasta literatura brasileira.
Mas... Onde estariam os livros “Algazarras de chamas” e “Sapatinho chinês”, que Mazzini Rubano anunciava para “breve”? Infelizmente, foi breve a sua vida e sua obra poética parece estar perdida.