A construção redundante vanitas vanitatum ("Vaidade das vaidades") é, na realidade, um calco linguístico do hebraico havel havalim. Na bíblia tal repetição tem valor superlativo. Vanitas vanitatum et omnia vanitas (em português, 'vaidade das vaidades, tudo é vaidade') é uma locução latina. Essa mesma locução abre e fecha o longo discurso do sábio e mestre Qohelet, que ocupa os doze capítulos de livro homônimo. 
Giacomo Leopardi reinterpretou o Eclesiastes e tomou um sentido niilista e traduziu a expressão como a infinita vacuidade do todo.
A Imitação de Cristo, um texto literário católico contempla a mesma máxima bíblica, acrescentando-lhe a frase; praeter amare Deum et illi soli servire (exceto amar a Deus e só a Ele servir).
O mesmo tema está presente em Orlando Furioso, no canto XXXIV, Ariosto narra a aventura do paladino Astolfo, que com seu hipogrifo, refaz as etapas da viagem iniciática e,desce às profundezas do inferno, ascende ao paraíso terrestre e, depois à Lua, acompanhado de São João Evangelista, a fim de recuperar o juízo de seu primo Orlando, enlouquecido de amor por Angélica.
Aliás, no poema, a Lua é o espelho da Terra, onde tudo que aqui se perde, por culpa nossa, pelo tempo ou destino, lá se acumula. Lá estariam a fama, as orações e as promessas de Deus, as lágrimas e os suspiros dos amantes, o tempo perdido no jogo, e os projetos jamais feitos, os desejos vãos, as adulações, os versos compostos para elogiar os senhores e até a própria doação de Constantino (XXXIV, 75 - 80). Só a loucura não se encontra na Lua, porque está, toda ela, na Terra.

Tudo aquilo representa os vãos desejos dos homens - e sobretudo daqueles da corte, que Ariosto conhece tão bem. Desejos vãos, que os homens jamais realizam - e, então, como Orlando, enlouquecem -, dado que todos os objetos de desejo vão parar lá em cima, na Lua.
Vanitas, Vanitatum Vanitas é igualmente o título de uma composição poética de Goethe, (Fundei minha causa sobre nada) é verso de abertura que seria usado por Max Stimer, como abertura e encerramento de "O único e sua propriedade".
De qualquer sorte, citar latim é perigoso.  Nas memórias de Fernando Henrique Cardoso 'A Arte da Política: a História que Vivi', Editora Civilização Brasileira. A certa altura FHC cita a seguinte expressão latina 'vanitas vanitatem'. Teria se enganado FHC? O Pequeno Dicionário Latino Português de autoria do Padre H. Koehler, SJ em sua 10ª edição, Editora Globo, Porto Alegre, na pagina 466 define a expressão como 'vanitas vanitatis', vaidade das vaidades.

Ora, o latim é uma língua declinada, o que significa que a terminação de uma palavra varia conforme a função sintática que ela exerce na oração: sujeito é nominativo; complemento restritivo (alguns casos de adjunto adnominal) é genitivo; objeto indireto é dativo; complemento circunstancial (casos de adjunto adverbial) é ablativo; objeto direto é acusativo.  Tecnicamente, assim como em português é correto dizer tanto "vaidade de vaidade" como "vaidade de (das) vaidades", em latim se pode dizer "vanitas vanitatis" ou "vanitas vanitatum". Jamais, porém, "vanitas vanitatem", que não quer dizer coisa alguma.
Por vezes, a vaidade contemporânea é encarada como mera adequação aos novos padrões estéticos e não como uma infinita obsessão. Pode ser cultivada seja para obter melhor qualidade de vida e, não para autodegradação da pessoa humana. A vaidade foi caracterizada por Aristóteles como um vício por excesso, sendo a virtude correspondente ao respeito próprio.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/04/2024
Reeditado em 21/05/2024
Código do texto: T8040609
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