Saí  hoje para fazer compras, e enquanto me  aventurava entre minha lista e as prateleiras,  mergulhei em reflexões sobre como os relacionamentos se perdem neste novo mundo, como se fôssemos simples produtos. Sabe quando pensamentos inesperados surgem do nada? Pois bem, foi assim enquanto percorria os corredores do supermercado. Observando os produtos meticulosamente arrumados, desde os mais acessíveis, lá embaixo os mais baratos ou até os mais caros ao alcance dos olhos, fiz uma analogia rápida: quantas vezes me sinto relegada à prateleira inferior, ou como um produto com prazo de validade vencido? 

 

Ao ver um menino sentadinho mexendo no celular enquanto sua mae estava na fila, pensei na tecnologia dos dias de hoje. Seu computador agindo de forma estranha? Existem os superpotentes, que até se dobram, transformando-se em um simples bloco de notas; outros, sensíveis ao toque, como se a tecnologia fosse mágica. O vendedor, entusiasmado com sua comissão, promete mudar sua vida através de uma tela. Ao entrar na loja, somos analisados por olhos mecânicos que determinam nosso perfil de consumidor. Tudo agora é rápido e instantâneo. "Você conhece o código QR?" – Nao?" – "Pois deveria conhecer! 

 

Um dia desses, meu cunhado disse algo que me fez rir. "As confissões dos fieis ainda dependem do padre, mas até quando?" Daqui a pouco, entraremos no aplicativo da igreja, clicaremos em  nossos pecados, enviaremos para a "nuvem", (se nao sabe o que é nuvem a Dilma o explicou perfeitamente) e o Espírito Santo nos perdoará. Ou, quem sabe, teremos um robô no confessionário, controlado por inteligência artificial, ouvindo nossas falhas e calculando, de imediato, a expiação cabivel.

 

Será que estou ficando sensível demais? Apesar da falta de paciência, tento fazer a minha parte. Hoje, ao voltar para casa, meu vizinho me parou para mostrar vídeos de treinamento de cachorros no seu telefone. Sim, aqueles vídeos chatos e repetitivos. Fiquei ali, assistindo e fingindo interesse, percebendo que, como sempre, tento me conectar com as pessoas, mesmo que nem sempre seja fácil.

Esse mesmo vizinho há anos atrás deu uma roseira de presente para meu jardim, mas, ainda ate hoje, é quem cuida dela toda primavera, ditando-me todas as instruções para garantir sua sobrevivência. Ou seja, a roseira é dele "por tabela". Comprou online dizendo que é alemã, e eu fui a "sorteada". Presente de grego! Mas até que a rosa é bonita!

 

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Assistindo seus videos,  e, com o pensamento longe dali, naquele momento refleti  sobre a falta de tempo para ouvir o outro. O dia passa tão rápido que mal temos tempo para ouvir a nós mesmos. Após a pandemia, surgiram alguns botoes simbolicos, como "adaptação à solidão",  que oferece um certo conforto, assim como  "gerar desculpas"; sem falar no botão  "voar no tempo". Perceberam que os dias se arrastam enquanto os anos passam de uma forma extremamente rápida?

 

Precisamos aprender a refletir mais, em vez de agir tão rapidamente. Embora os anos corram vertiginosamente,  precisamos tentar resgatar nossa humanidade, demonstrar compaixão e procurar dentro de nos aquela  gotinha de espiritualidade. 

O que percebo é que a paciência se tornou um produto raro  quando a rapidez é a moeda mais valorizada nos dias de hoje.

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 12/04/2024
Reeditado em 12/04/2024
Código do texto: T8040172
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