VIVENDO E APRENDENDO
Às vezes me pego lembrando que o aniversário de sete décadas se aproxima, impressionante como passou rápida essa década dos sessenta anos, outro dia mesmo estava comemorando o ingresso na dita terceira idade.
Comecei os anos sessenta ainda na labuta, sem pensar na aposentadoria, aliás, quem gosta do que faz, em caráter normal, não se preocupa com o passar dos anos. Situação bem diferente daquela vivenciada pelos eternos descontentes, que rotina do cotidiano se fazia sofrida, pois já chegavam ao trabalho com toda aquela carga negativa.
Essas pessoas trabalham com uma meta absolutamente sombria, fazem às contas tal qual um presidiário, ambos sonham com a liberdade, esquecendo de aproveitar o que o presente lhes oferece, mesmo que isso seja muito pouco a depender da situação.
Mal sabem eles, que quando efetivarem seu sonho de liberdade, provavelmente seu corpo e mente demonstrarão que ninguém passa incólume pela vida, e essa parcela específica então, devido ao processo de ansiedade por mudanças, acaba precocemente desgastada.
Mesmo com um passado de vivências, e porque não alegrias esportivas, a dúvida ficava atrás da orelha, todo tempo te lembrando de que o peso da idade pode interferir de forma lamentável, tanto sobre físico, como na mente, independente de como levou a vida pregressa.
Quando você não pensa a respeito dessa nova fase da vida, tudo vai transcorrendo de forma natural, mesmo notando, que passa a ser o decano em todas as reuniões que participa.
Depois de sacramentada a aposentadoria é que o problema efetivamente se instala, e agora José para onde? Muito estranho, você acordar e se dar conta que sua agenda está vazia, ou melhor, nem mais agenda tem logo ela, que foi parceira fiel por décadas, agora não mais faria parte desse novo capítulo da vida.
E suas colegas de trabalho, aquelas mesmas que cotidianamente estavam ali a seu lado, compartilhando os bons, e também aqueles não muito bons momentos nesses últimos anos. De repente, essa porta também se fechara em definitivo.
Caramba são muitas mudanças para tão curto espaço de tempo, a exigir antes de tudo calma, muita calma e paciência, para gradativamente restabelecer seu novo papel na sociedade.
Para complicar ainda mais a situação, mesmo no doce recanto do lar tudo permanecia da mesma forma, para esposa e filhos, todos com sua agenda carregada de obrigações, apressados para partirem atrás de suas obrigações.
A sensação que ficava, e efetivamente não era das melhores, pois só eu tinha alterado, e para sempre meu cotidiano e precisaria encontrar o quanto antes uma saída, que me repusesse de volta, nessa roda viva que fomos acostumados a conviver.
Agora, não precisaria mais correr para jogar meu tênis noturno, poderia encarar um livro sem restrições de horário e claro, assim que fosse possível diversificar minhas atividades diárias. E foi assim que passei a viajar com mais frequência, dedicar mais tempo à escrita e incorporar a música, através do coral no meu cotidiano.
Jamais poderia imaginar que fosse me adaptar tão bem a esse novo momento da vida, ainda mais, que diferente de muita gente que conheço, eu tinha muito prazer e desafios constantes no meu cotidiano de servidor público municipal.