O Eurocentrismo Como Visão Preconceituosa do Mundo

É deprimente, por vezes hilário, testemunhar o quão nossos valores estão saturados de preconceitos lambuzados de eurocentrismo. Um dos exemplos mais flagrantes dessa situação se manifesta em alguns membros da comunidade evangélica, que, em suas cruzadas contra as religiões de origens africanas, como umbanda e candomblé, adotam práticas desprezíveis. Terreiros são queimados, e praticantes dessas manifestações espirituais são perseguidos por aqueles que se autoproclamam seguidores do amor de Cristo. Os púlpitos neopentecostais são seguros espaços para ensandecidos pastores destilarem publicamente todo tipo de ódio contra minorias religiosas.

Contudo, a ironia se faz presente quando esses mesmos evangélicos se entregam ao entretenimento de obras que veneram deuses da mitologia grega ou nórdica, como Poseidon ou Thor. Eles levam seus filhos aos cinemas para assistir filmes da Marvel em que os personagens são brancos e de olhos azuis. Fica evidente que, se os protagonistas dessas histórias fossem orixás, a reação seria uma enxurrada de críticas e condenações.

Essa seletividade cultural reflete um profundo eurocentrismo, onde divindades gregas e nórdicas são embranquecidas e glorificadas, enquanto figuras do panteão africano são marginalizadas. O continente europeu é celebrado por sua suposta superioridade, em contraste com a desumanização das culturas africanas, rotuladas de sub-humanas. A perspectiva preconceituosa se estende também à maneira como consumimos outros tipos de mídia. O imaginário social está repleto de racismo internalizado, mesmo que as pessoas argumentem a qualquer custo que são tolerantes com todas as etnias.

A rede televisiva chamada History Channel, por exemplo, é um reduto de pseudociência que perpetua a distorção eurocêntrica, atribuindo às civilizações acima da linha do Equador, como o Império Romano, a autoria de maravilhas da engenharia. Enquanto obras monumentais abaixo dessa linha imaginária, como as pirâmides do Egito, são ridiculamente creditadas a visitantes extraterrestres. Ela nega, por exemplo, a grande capacidade intelectual dos povos ameríndios ao sugerir que as pirâmides de Teotihuacan, no México, são produtos de antigos extraterrestres, e não do engenho de astecas e maias - local que tive o privilégio de visitar e perceber a criatividade arquitetônica feita pelos primeiros povos em solo mexicano.

Tal narrativa não apenas causa repulsa, mas também reforça o estigma de que as civilizações do hemisfério norte possuem superioridade intelectual sobre aquelas do "terceiro mundo". Não consigo esquecer dos risos ao presenciar as asneiras ditas, as quais são baseadas num colonialismo estadunidense e em insano misticismo.

Este cenário retrata uma sociedade ainda presa às garras de um racismo internalizado, onde o eurocentrismo moldam percepções de mundo. Estamos imersos em uma imposição ideológica que exige um desprendimento de velhas crenças e a adoção de uma visão mais respeitosa em relação à diversidade de contribuições civilizacionais. Reconhecer e valorizar as nossas riquezas culturais, nossas origens ancestrais é fundamental para destruir o preconceito e construir uma sociedade mais inclusiva. Soy latino americano con mucho gosto e histórias de tapebas e incas me interessam muito mais que alucinações da cientologia.

03.04.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 08/04/2024
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