Como sempre

O fim do ano chega e com ele velhos débitos e novas esperanças! Papai Noel se apronta para encantos e sonhos guardados durante o ano todo. O que dormitava acorda. O homem reinventa a festa e sai às ruas como se tudo houvesse se transformado em um mar de rosas. Quando chega janeiro e a conta bancária denuncia a gastança excessivamente feita, pensa-se no carnaval e a gente nem sabe muito bem de onde brotam novas esperanças e assim o motor-contínuo da vida é renovado e entre esquecimentos voluntários nos chegam as esperanças perdidas.

Eu diria que a vida em sociedade é uma grande festa dos enganos e achamentos. O homem salta obstáculos, corre para chegar rápido, trabalha feito um bicho e gasta tudo em um segundo ou guarda para deixar para os filhos quando ele é beijado pela morte.

E enquanto o planeta esquenta, a família esfria e dissolve-se diante das dificuldades do mundo moderno. Os casamentos são desfeitos por absoluta falta de diálogo ou por desníveis culturais mal administrados. Ficam os filhos a sofrerem com as máculas deixadas por um lar destruído. Vejo muito fomento para tudo isso no liberalismo que encontrou assento no movimento feminista e seus frutos destrucionistas. O conservadorismo deu lugar a regras inconfundíveis, dadas suas potentes possibilidades de com o quadro contribuírem.

Quando um dos dois não cede um pouco mais, ambos ficam alimentando um terceiro espaço onde poderá vir habitar a discórdia e o esfacelamento de tudo. A família deve ser vista como uma instituição forte e imexível. É uma experiência sacrossanta e infindável quando nela há amor de verdade. As crises passam, mas a instituição deve ser alimentada por um amor diferente desses que estamos acostumados a encontrar nas prateleiras dos supermercados ou dos grandes magazines. Se não enxergarmos dentro do leito familiar a pureza do amor da alma, de nada adiantará transformar a família em um balcão de negócio para alimentar sobrenomes ou interagir com o passado morto e perturbado.

Há os flertes do namoro, a aprendizagem do noivado e a apoteose do encontro com o casamento. Aí a família nasce e enxerga sua confirmação com os filhos gerados. Os corpos envelhecem e aparecem as preocupações bestiais com as marcas do envelhecimento e surgem as cirurgias plásticas entre desejos safadeando a relação gasta pela mesmice e pela autofagia dos sentimentos jogados fora por ambos os cônjuges.

Quando mulher e homem descobrirem que apenas na alma reside o verdadeiro amor, os corpos até que continuarão interagindo e procriando, mas apenas encontrará em um aperto de mão, em um abraço apertado e na troca de olhares cúmplices, o verdadeiro sentido do casamento e o mais legítimo significado da instituição familiar.

A separação rasga o véu e retira da família o néctar sagrado do companheirismo e do amor múltiplo. Os filhos, mesmo maiores, provarão o fel da pequenez dos pais, afastados do entendimento de que o amor é mais importante do que tudo numa relação familiar.

O efeito estufa está aí, é seríssimo e tem que ser encarado de frente e com vigor. Bem maior do que ele está a frígida realidade da separação de casais, que ruma à deterioração fatal da instituição familiar. A vida moderna está ajudando bem mais a destruir esperanças de que mesmo alimentar o amor do passado. Se não detivermos esse desdesejo nosso, seremos em pouco tempo os únicos inquilinos desamados desse planeta. Falta amor entre nós e amor em abundância como Cristo disse da vida que se propôs e realmente nos deu, com a sua morte e ressurreição. Que essa época natalina nos sirva como reflexão. Separar, para quê? Inconveniências se resolvem com diálogos sinceros! Onde há o amor verdadeiro nada se separa!