A ESCADA
Encostada na parede à frente de minha casa,
do outro lado da rua,
lá esteve uma velha escada de madeira por um longo tempo.
Ia eu para a escola puxada pela mão de minha irmã mais velha.
E para trás ficava a escada que nunca me arvorava pelos seus degraus acima.
Afinal a que haveria para ser visto lá em cima, em seu topo? Da fragilidade da minha pequenez e tamanho físico não me arriscava.
– Nem pense nisto menina! – teria advertido mamãe se soubesse de minhas ocultas intensões.
– Quanto mais alto se sobe, maior é a queda! – completaria ela ao fim de seus ensinamentos.
Lá se foram os anos de minha infância e foi a escada destruída pelo tempo e pelo uso.
Mas comigo ficou a imagem das pessoas que dela fizeram uso ao longo do tempo: sempre subindo, subindo... subindo sempre.
Assim também nós fazemos ao longo de nossas existências.
Entretanto, depois de muitos anos de degraus galgados, descobrimos que a dignidade e a coragem que nos levam escada acima, devem ser as mesmas que precisam nos conduzir às vezes, escada abaixo.
Isto porque, lá de cima, do topo da escada, quase sempre perdemos a senso do todo; ficamos alheios aos detalhes do mundo e principalmente às dores e angústias das gentes.