ROTINA E ANGÚSTIA.
Não é difícil perceber a angústia associada à rotina. De mãos dadas passeiam pelo terreno movediço da emotividade exacerbada. É a desordem da impossibilidade de ver diante de si as cadeias que algemam a vontade diversificada que leva à plenitude da vida, sem cárceres do direcionamento dessa vontade patologicamente comprometida. É a religião da repetição, o rito de um caminho só, sem descortino do geral que morre na praia da curiosidade sem chegar ao oceano da conquista de novos espaços.
Como ópio dos sentidos, a vontade presa à rotina traz a vertigem mental, a soma do suplício físico amarrado à tortura mental da mesmice. Há de se fazer o mesmo sempre, de se curvar ao rito rotineiro, não pode ser quebrado, de forma alguma. É fácil divisar tais comportamentos em todas as atividades. Nunca se muda em nada, nem no próprio caminhar na profissão, no convívio, nas atividades em geral. Torna-se o rotineiro um especialista em seus hábitos. É paradoxal ser o especialista da generalidade, variar e ser plural no singular, correr atrás do mesmo achando que está se multiplicando nas vontades no tudo, excentricidade da mesmice, sonhar no pesadelo.
Esse “modus” impulsiona fortemente a angústia que pode chegar de maneira intensa sem ser percebida, colocando a alma em frente ao abismo da seletividade ou da patologia, ou se quebra a rotina ou mergulha-se no inferno da angústia.
Parece banal, mas envolve grave seriedade de conduta se inexiste policiamento e consciência. Por rotina se é levado aos grandes vícios cujo grau aumenta a cada dia, é o vício do mesmo que se pensa difuso. É o risco cumulativo, a ordenação que desordena. Assim também nos comportamentos que refletem ausência de perigo.
A rotina gera ansiedade, que gera mescla química, que transforma o organismo. Chega-se à angústia movimentada pelo ansioso crônico, um infeliz que certamente se acomoda com sua miséria, por vezes avassaladora que toma conta de seu ser, aos poucos. Pior, pela cumulatividade. Só é percebida a rotina crônica e ansiosa às portas da angústia, do cárcere da vontade.
Quebrar a rotina é imposição por tais fatores de riscos não avaliados. Repetir rotineiramente questões sociais que nunca irão mudar é combustível da angústia.