Entre Sem Bater - As Guerras Religiosas
Schopenhauer disse:
"... somente as religiões monoteístas fornecem o espetáculo das guerras religiosas ..."(1)
Definitivamente, escrever muito sobre algum pensamento de Schopenhauer é uma tarefa dificílima. Exige reflexão e muito cuidado na transposição da ideia para os dias atuais. Anteriormente, escrevi sobre uma frase de Schopenhauer e as religiões(2) e agora o tema ganha atualidade com as guerras religiosas.
Com toda a certeza, gosto das ideias de Schopenhauer, pois a maioria das pessoas o tem como um pessimista, mas é um realista. A fama deste grande filósofo é de que ele seria impopular, mas ele é daqueles que, sem dúvida, diz verdades objetivamente.
GUERRAS RELIGIOSAS
Paradoxalmente, temas como as guerras religiosas polarizam crentes e não-crentes. Do mesmo modo, monoteístas, politeístas, ateus e até céticos, entram na polarização e em guerras nada "santas". Por outro lado, as pessoas nas redes sociais assumem um lado da polarização sem conhecer do tema que motiva o comportamento.
No meu caso, para refutar algumas teorias e até mesmo narrativas, vejo séries, documentários e produções sobre todos os temas. Este caso tem relação com uma série de temática religiosa(*), com registros nos três principais livros religiosos. É provável que, na Bíblia, Alcorão e Torá, a referência ao que denomino origem das guerras religiosas seja verdade.
Uma guerra(2) significa que alguém quer derrotar um adversário por vários motivos. No caso das guerras religiosas, a concepção de Schopenhauer é absoluta. Raramente, quase nunca observamos na história, politeístas ou monoteístas não-cristãos querendo impor seus deuses.
Assim sendo, a motivação das guerras religiosas, em sua quase totalidade, é a intolerância com os que pensam diferente.
MOISÉS, O PROFETA
Vai parecer uma heresia, mas a maioria dos religiosos não aceitam algumas verdades sobre religiões, se for a que eles seguem. Moisés é, reconhecidamente, um profeta para religiões de linhagens diferentes. Entretanto, o que os livros destas religiões descrevem sobre Moisés é que era um cara linha dura. Por exemplo, a ira de Moisés quando viu seu povo idolatrando um bezerro de ouro é lapidar, quebrou "os dez mandamentos". Curiosamente, a ira é um dos pecados, ainda considerando os livros religiosos, e Moisés pecou.
Desde que Moisés, depois de sumir por quarenta dias, voltou com os dez mandamentos e quebrou, a humanidade mudou muito. Em outras palavras, com a "tábua" em pedacinhos restou à humanidade acreditar no que um contou para o outro. E assim, a luta do povo hebreu, monoteísta, deu início ao que Schopenhauer vaticinou.
CIVILIZAÇÃO
A evolução da civilização humana ocorreu em diferentes partes do mundo, com o surgimento de diversas culturas, tradições e crenças. Assim sendo, é natural presumir que os povos de África, América e Ásia tinham diferentes divindades. Desse modo, suas práticas religiosas refletiam as suas visões de mundo únicas.
Entretanto, nos últimos séculos, o mundo testemunha o crescente aumento da intolerância e dos conflitos religiosos. Conflitos cuja origem, Schopenhauer atribui aos seguidores das religiões monoteístas.
Podemos dizer, desta forma, que as raízes da intolerância religiosa, guerras e discriminações é o papel das religiões monoteístas. Essas religiões, como primordialmente o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo, só aceitam a crença da divindade única e todo-poderosa.
E, surpreendentemente, estas religiões forjaram a visão de mundo de bilhões de pessoas, moldando suas atitudes em relação a outras religiões. A ideia de uma única divindade levou a um sentimento de exclusividade e superioridade absurdamente insanos. Por isso, constatamos, que, na maioria dos casos, traduz-se em intolerância para com outras religiões e pensamentos divergentes.
GUERRAS SANTAS
A história das religiões monoteístas revela-se em uma série de conflitos e guerras, inclusive entre os divergentes. Esses conflitos resultaram na perda de inúmeras vidas, inclusive de inocentes, e no deslocamento de milhões de pessoas.
As Cruzadas, a Inquisição e a Guerra dos Trinta Anos foram, por exemplo, conflitos de consequências devastadoras da intolerância religiosa. Estes conflitos florescem e avançam pela crença de que apenas uma religião é verdadeira e que todas as outras são falsas. Desse modo, surge um sentimento de "justiça" entre os crentes e a vontade de usar a violência para defender a sua fé.
A intolerância das religiões monoteístas não se limita aos conflitos com outras religiões. Também se estende a dissidências internas e diferenças de opinião. A história do Cristianismo teve, certamente, crimes, inúmeras heresias, cismas, como o Grande Cisma de 1054. O conflito de 1054 foi um marco da divisão da Igreja em ramos Oriental e Ocidental. Posteriormente, a Reforma Protestante levou à criação de numerosas denominações protestantes, e cá estamos, neste inferno.
Estas divisões, cismas e conflitos, estão sempre juntos da violência, da intolerância e da perseguição. Enquanto isso, cada lado procura impor os seus pontos de vista ao outro ou eliminar o outro.
PASSADO, PRESENTE e FUTURO
A intolerância às religiões monoteístas não é coisa do passado, existe, outrossim, desde que o monoteísmo existe. Destarte, assistimos a um ressurgimento do fundamentalismo religioso e do extremismo, particularmente no Médio Oriente e na África.
Grupos como o ISIS, o Boko Haram, Hamas e o Al-Shabaab usaram e usam da violência e do terror para impor suas crenças. Desse modo, milhões de pessoas ou deslocam-se de seus espaços ou inúmeras vidas perdem-se brutalmente.
A intolerância às religiões monoteístas não se limita às ações de grupos extremistas. Também se reflete nas atitudes e crenças das pessoas comuns, de famílias comuns, pretensamente religiosas. Em outras palavras, muitos crentes monoteístas pensam que a sua religião como o único caminho verdadeiro para a salvação. Seja lá o que signifique a salvação para todas as outras pessoas. E, como se não bastasse, acreditam que as pessoas e outras religiões são inferiores ou mesmo más.
SUPERIORIDADE
Essas atitudes e comportamentos levam a um sentimento de superioridade e à falta de respeito pelas crenças e práticas alheias. A intolerância das religiões monoteístas é um produto de fatores históricos, culturais e sociais que são evitáveis. Entretanto, nos últimos tempos, além de não evitarmos, a sociedade preocupa-se com corrigir os efeitos nefastos.
Assim sendo, reconhecer a diversidade de crenças e práticas religiosas e respeitar o direito dos indivíduos seria o mais racional. Entretanto, em ambientes onde reinam as aparências e a hipocrisia, fica impossível deter as tentativas de superioridade.
Outra opção para promover a tolerância religiosa seria encorajar o diálogo entre as diferentes comunidades religiosas. Contudo, os diálogos inter-religiosos, a educação religiosa e programas de intercâmbio cultural sempre destacam a superioridade. Infelizmente, a cultura no Brasil consolidou-se com a falta de compreensão e de respeito às diferentes tradições religiosas.
NEM JESUS SALVA !
Enfim, se até Moisés foi cruel, porque seus seguidores proclamariam a tolerância. Surpreendentemente, a maioria se vale de passagens específicas de seus livros sagrados para esconder suas práticas. A intolerância das religiões monoteístas é uma questão complexa e que agrava-se com a explosão das redes sociais.
Desse modo, a visão do mundo de milhões de pessoas, gera um sentimento instantâneo de exclusividade e superioridade.
Enfim, as principais religiões monoteístas ( Judaísmo, Cristianismo e o Islamismo) praticam a intolerância. Ao terem a crença da divindade única e todo-poderosa e fonte de todas as leis morais, desrespeitam todo o resto da humanidade. Praticam, outrossim, diversas atrocidades, em nome do seu Deus, como fez Moisés, segundo suas escrituras, numa interpretação possível.
Será que podemos afirmar que a humanidade evoluiu quando constatamos que estas guerras religiosas só aumentam?
UM DIÁLOGO
É provável que nem o diálogo salve, se um lado não quer e só trabalha com o objetivo de destruir o inimigo.
"Somente as religiões monoteístas fornecem o espetáculo das guerras religiosas, das perseguições religiosas, dos tribunais
heréticos, da quebra de ídolos e da destruição de imagens dos deuses, da demolição dos templos indianos e dos colossos
egípcios, que olharam para o sol durante 3.000 anos: só porque um homem ciumento Deus havia dito: 'Não farás nenhuma
imagem esculpida'."
in "Religião: Um Diálogo" (Schopenhauer)
Aparentemente, a maioria dos leitores que já possuem uma opinião preconcebida(3) sobre o tema, não terá disposição para o debate. É provável que Schopenhauer, além do pensamento sobre as guerras religiosas, mostrou muitas verdades que não aceitamos.
Nem Jesus salva, e "Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) A minissérie (Netflix) é sobre Moisés e os Hebreus, bem a propósito das guerras religiosas entre muçulmanos e judeus.
(1) "Entre Sem Bater - Arthur Schopenhauer - As Guerras Religiosas" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/05/entre-sem-bater-schopenhauer-as-guerras-religiosas/
(2) "Entre Sem Bater - Schopenhauer - As Religiões" https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/11/12/entre-sem-bater-schopenhauer-as-religioes/
(3) "Entre Sem Bater - Sun Tzu - Guerra" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/06/27/entre-sem-bater-sun-tzu-guerra/
(4) "Entre Sem Bater - Schopenhauer - Opinião Preconcebida" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/04/03/entre-sem-bater-schopenhauer-opiniao-preconcebida/