DEVANEIOS LITERÁRIOS
Quando se olha para trás, podendo inclusive se dar ao luxo de juntar as pequeninas peças que de alguma forma contribuíram na formação desse ser com suas virtudes, mas também com suas fraquezas, afinal de contas, muitas das situações porque passamos ao longo da vida, em primeiro lugar não esgotarão as muitas possibilidades na vivência de fatos.
Agora, para quem tem curiosidade e consegue captar o que vai acontecendo com amigos, ou mesmo conhecidos, que em algum momento, se aproximaram de seu cotidiano, trazendo novas situações, ou mesmo interpretações dos acontecimentos, tudo isso contribui de forma significativa para a consolidação do seu mosaico de conhecimento.
Um lugar de destaque especial pode ser creditado aos filmes, peças ou livros que evidenciaram para você, alternativas diferentes para uma mesma situação vivenciada na trama.
Há algum tempo atrás, tanto nos cinemas, como nos teatros se convivia com uma limitação tanto de filmes, como de peças teatrais, não só pelo reduzido número de salas, função do porte da cidade, como também pela limitação financeira, típica dos grupos mais jovens.
Restava então o incomensurável mundo das letras, ali o céu sempre foi o limite, principalmente nos grandes centros. Além do acervo de casa, que poderia ser limitado, de acordo com a formação dos pais e avós, existia sempre a possibilidade de pegar carona de livros entre parentes, conhecidos e amigos. Dependendo da desenvoltura e dedicação na leitura, essas fontes mais próximas poderiam a partir de um certo momento até secar.
Então, na busca por mais quantidade e variedade, finalmente a necessidade se voltaria para maiores mananciais, agora a coisa era realmente séria, e de repente você se encontrava dentro de uma biblioteca.
A princípio, aquela tímida do colégio, onde predominavam autores nacionais, pois o objeto do acervo era o de atender estudantes e suas demandas por escritores envolvidos no currículo escolar. Mesmo assim, a descoberta desse local sagrado, abrias as portas que permitiriam o acesso a várias obras de um mesmo autor e o mais interessante, ampliar de forma imesurada o leque de opções de leitura.
Bom, em pouco tempo você se familiariza com as formas de catalogação do acervo, e já consegue “se sentir em casa” diante daquele universo de intermináveis estantes dispostas de forma cartesiana.
O passo seguinte, nessa história sem fim é descobrir as bibliotecas regionais, aí sim as coisas melhoram, pois nestes ambientes públicos, e pouco freqüentados pelo público, novas publicações estão sempre chegando, inclusive livros recém lançados.
Quando você menos espera, torna-se inadiável uma pausa na leitura, porque a faculdade chega com força, e passa a ocupar praticamente todo espaço no seu dia a dia, agora não tem jeito, o tema mudou, não há mais espaço para generalidades, neste momento passa a valer a especificidade, e a matemática e tudo que orbita em seu entorno se transformam em prioridade.
Logo, mais uma variável inibidora da leitura entra em cena, se apropriando do pouco tempo que ainda permitia uns bordejos pela literatura.
Veja o que o destino faz com a gente, nesse primeiro emprego formal fui contratado para “levar a cabo” um programa científico para computador, que tinha como objeto a construção de estradas. Pedi ao meu coordenador uma semana, talvez duas para que me familiarizasse com as tecnologias exigidas, para levar adiante a empreitada.
Sabia que PUC do Rio de Janeiro dispunha de excelente biblioteca para o tema. Comecei numa segunda feira a luta contra o relógio. Solicitei a responsável pela biblioteca material de construção de estradas. Em pouco tempo quatro livros do tipo quatrocentas páginas estavam a minha frente, dispensei de cara dois volumes escritos na língua de Shakespeare, afinal não dava para conciliar um conhecimento novo com língua estrangeira. Realmente, em pouco mais de uma semana reuni material técnico suficiente para deslanchar o projeto.
Não foram poucas as vezes que tive recorrer a bibliotecas para pesquisar demandas de trabalho, e a Biblioteca Nacional passou a ser a queridinha nas buscas.
Bom, então chegou ela, a internet, que permite que se faça quase tudo de sua casa na telinha colorida, de publicações digitalizadas, a opções infinitas de filmes disponibilizadas pelo Netflix, Prime e Globo play. O Youtube tira dúvidas genéricas através de vídeos e o Google e o seu homônimo acadêmico que permite acesso a um número sem fim de bancos de dados acadêmicos.
Minha dúvida atroz se refere à questão de conteúdo, será que essa geração que não passou pelo aprendizado de catalogação e que poucas vezes trabalhou com o dado de forma analítica teria capacidade de discernir o joio do trigo?